27/09/2012

Rede de boatos


Dizem que uma pesquisa realizada na cidade coloca um dos candidatos com larga vantagem na luta pela Prefeitura nas eleições de 07 de outubro. Dizem ainda que, diante da informação, está difícil para o outro candidato, o preterido, continuar incentivando seus cabos eleitorais e candidatos à vereança. Desânimo total. Quem me falou foi uma pessoa que me pediu segredo. Ele é muito bem informado e nada ganharia com a divulgação do fato, pois seu candidato está atrás.
A informação acima é falsa. Porém, quem leu somente o primeiro parágrafo ficou com a nítida impressão de que se trata de algo verídico. Assim nascem os boatos tão largamente utilizados no dia a dia. Nos tempos de campanha então, nem se fala! De boca em boca uma história qualquer vai tomando novos contornos. Cada um vai colocando um tempero a mais. No final da linha aparece uma história com todos os ingredientes, com todos os mínimos detalhes.

19/09/2012

Conexões perigosas


Houve um tempo em que não havia computador. Ele não fazia a menor falta. Cálculos enormes eram feitos em calculadoras. Pesquisas escolares eram feitas nas enciclopédias, uma coleção de livros ilustrados onde se encontrava registrado o conhecimento humano. Houve um tempo em que não havia internet. Ela não fazia falta. Os contatos eram lentos, o mundo andava com vagar. Não havia a sede do instantâneo.
Eis que surge o computador. Os homens vão se ligando de todas as partes numa rede chamada internet. As conexões são precárias tanto quanto o sistema telefônico vigente. No entanto, com investimentos pesados em tecnologia o que era lento foi ganhando velocidade. Em pouco tempo o que não fazia falta virou indispensável. Surgem as conexões rápidas, ultra-rápidas. As enciclopédias, que viviam desde o Século XVI, foram sepultadas. O conhecimento humano foi pulverizado. Fontes fidedignas pra quê?

12/09/2012

Votos garantidos

Grande incerteza deve acompanhar os candidatos neste período. Apoio de lá e de cá, garantias e mais garantias. Porém, tudo é incerto. Somente quando os votos forem efetivamente lançados é que saberão, enfim, como foi o desempenho. Alguns sentirão o amargo gosto da reprovação e outros colherão os louros do acolhimento popular.
O otimismo parece ser a grande sacada. Pergunte a um candidato como está a campanha. A resposta, quase sempre, é de que ela está cada vez melhor. Se a campanha está tão boa para tanta gente, há, com certeza, muitos candidatos a uma vaga na Câmara Municipal fazendo a leitura errada do jogo eleitoral. Ou é uma estratégia discursiva visando afastar o desânimo.

04/09/2012

O arrebol

Meu pai resistiu o que pode em usar barbeador descartável. O ato de fazer a barba era quase que um ritual. Nos dias mais quentes, costumava levar seu minúsculo espelho, colocá-lo numa frondosa sombra de uma árvore, acomodá-lo na distância desejada, passar uma espuma de sabonete no rosto e montar o aparelhinho de barbear com lâminas azuis com a cara do seu Gillette impressa no envelopinho.
Os aparelhos antigos eram em aço. Duravam a vida toda. Alguns eram simples. Uma haste arredondada com uma chapa fixa em cima. Colocava-se a lamina de barbear e com a mão fechava-se a chapa com outra que encaixava perfeitamente. Outros já apresentavam certa complexidade.  Dispunham de um mecanismo na parte inferior que acionado fechava o compartimento superior já com a lâmina dentro.