25/09/2013

Olhares diversos

Num desses papos despretensiosos, onde o que mais se quer é filosofar, disse em alto e bom som que não há órgão de imprensa imparcial. Todos estão comprometidos. Antes que pudesse seguir na linha de raciocínio que vinha sendo traçada, outro se deu por ofendido e, tal qual um suicida que se lança na frente da locomotiva, avocou a si e à empresa que representa a total democracia e transparência. O sujeito cresceu na minha frente. Suas veias do pescoço subitamente inflaram. Suas narinas se alargaram como que buscando mais oxigênio no amplo ambiente em que nos encontrávamos. Parecia um herói de historia em quadrinhos em plena transformação.
Cheguei a pensar que ele sofreria algum distúrbio sério tal a transformação que experimentara em questão de segundos.

18/09/2013

A pequena história


A história da humanidade é contada a partir dos grandes acontecimentos. Invenções, descobertas, celebrações, pactos e acordos. Sempre haverá a atuação de um grande homem ou, para ser politicamente correto – de uma grande mulher-, por trás de algum acontecimento significativo. 
Na verdade, é uma imposição da história oficial a presença de personalidade que vai representar o papel de protagonista. Alguém precisa levar o crédito. Alguém tem que ser o responsável pelos fatos. Com o tempo, os historiadores vão personalizando os acontecimentos de tal forma que restam tão somente alguns nomes. São ícones, verbetes. São sínteses de fatos complexos que foram resumidos à exaustão.

11/09/2013

O mal que entra na boca do homem

Doce é bom. Bom é pouco, é muito bom. Ambrosia é o preferido pelos deuses. Seu sabor inigualável, associado ao néctar, confere às divindades nada mais do que a imortalidade.  E isso não é pouca coisa.
Rapadura e pé-de-moleque são imbatíveis entre a gurizada. Nos aniversários de crianças nada bate o brigadeiro, por aqui chamado singelamente de negrinho. Tantos outros sabores poderiam ser lembrados como os simplórios sagu e a torta de bolacha, que aparecem tanto na mesa trivial ou naquela que guarda certo requinte; a abóbora, desde que apresente uma casca durinha porque molenga ninguém atura; as musses de toda a ordem (de chocolate, de limão ou de maracujá). Tudo muito bom.

03/09/2013

As provas

Não sei ao certo quem foi. No entanto, a inovação apresentada pelo professor naquela prova mudou drasticamente a forma como deveríamos estudar. Até então, a cobrança se baseava somente na decoreba. Ou seja, tínhamos que decorar frases inteiras para responder corretamente às questões que se apresentavam naqueles momentos fatídicos que se transformavam o dia da sabatina. 
O sistema da  múltipla escolha, onde o professor, após o enunciado, enumerava cinco possibilidades de resposta, era um achado e tanto. Era uma ajuda para aqueles moleques extremamente atarefados com suas atividades futebolísticas e que não dispunham de muito tempo para os estudos.