28/03/2014

As opiniões

arte (extrasm.com.br)
Opinar é bom. É necessário. É fundamental, especialmente no processo democrático. Opinar sempre, independentemente do assunto torna-se cansativo. Perde a graça. Causa incômodo.
Nos dias de hoje, vive-se o império da manifestação. Nas redes sociais, então, não há limites. Compartilhe algo e chove manifestações questionando quais seriam as tuas intenções, criticando por isso e por aquilo. Se alguma ação do governo local é curtida, em segundos os guerrilheiros do outro lado crivam de comentários negativos. Ressalte qualquer aspecto da vida nacional e os críticos de plantão vão derrubar seus barris de ódio ao PT, à Dilma, ao Tarso e a qualquer um que possa ser criticado, mesmo que não tenha nada a ver com a história.
Está ocorrendo na internet aquilo que nós gaúchos estamos carecas de conhecer: a regionalização. Se alguém comenta uma vitória de seu time, algo banal, comum, corriqueiro e, muitas vezes despretensioso, acaba mexendo com uma galera radical que não sabe levar na esportiva. Alguns mostram os dentes ameaçadoramente, destilando ódio por todos os poros, babando pelos cantos da boca como os lobos enfurecidos. Homofobia, racismo, xingamentos diversos, expressões chulas, tudo sem muita medida, coisas desnecessárias poluindo aquilo que deveria ser uma ferramenta de diversão, de entretenimento, um reles passatempo.

11/03/2014

A borboleta

Uma borboleta surgiu no meio da cidade grande. Talvez tenha cruzado por um milhão de pessoas que a ignoraram. Uma delas, no entanto, deixou seus afazeres e dedicou parte do seu tempo a seguir o voo solitário. Disfarçadamente fez que não viu um conhecido. Não desejava perder de vista a pequena intrusa. Nem queria ser confundido com um louco, um debiloide qualquer que no meio da tarde quente anda por aí, irresponsavelmente, correndo atrás de borboletas pela rua. Isto, convenhamos, seria um atentado à reputação de qualquer um.
As desventuras do velho cronista seguindo uma simplória borboleta foi tema de uma crônica de jornal, de autoria do insuspeito Rubem Braga. Os leitores, com certa ansiedade, acompanharam durante três dias o surgimento, a trajetória e o sumiço da borboleta, que se perdeu das vistas de seu acompanhante sem deixar qualquer sinal, misturando-se aos prédios, árvores, carros e ônibus.

06/03/2014

As viúvas do General

Há alguns amigos que não perdem tempo.  Estão conectados com os anos de chumbo. Apavorados com a roubalheira, que ganha ampla divulgação pela imprensa, contrariados diante do resultado dos julgamentos dos corruptos e indignados pela fixação do regime de cumprimento da pena e por tantos outros capítulos que se seguem vagarosamente como as novelas das nove da noite, gritam por dureza, por penas mais fortes. Na realidade, o que desejam é uma resposta mais dura e que atinjam preferencialmente todos aqueles que não prestam: os outros.
No rabo deste foguete aparece uma foto de um antigo ditador de farda, fazendo previsões nada positivas sobre o futuro da nação. Requentaram até General no Facebook. E, ainda por cima, com cara de sério. Em síntese: querem uma nova ditadura para resolver o problema da sacanagem que campeia pelo país afora. Santa Ingenuidade, Batman!