20/03/2017

A Ética do Ladrão

Nos tempos românticos, escolas e igrejas não eram assaltadas. Os ladrões mantinham algum resquício de ética. Talvez resultado do apego emocional. Algum respeito à professorinha e, quem sabe, medo de alguma retaliação da divindade? Não importa. Merenda escolar, equipamentos usados para a educação e o ambiente sagrado eram isentos da ação danosa dos meliantes. Este tempo foi superado. Tanto que nem é mais notícia. Somente os jornais mais populares e as rádios locais noticiam estas ações. Escolas da periferia os grandes centros estão impedidas de manterem televisores, monitores, computadores, notebooks, projetores e mesmo estoque de comida. Tudo vira moeda no comércio de pedras de crack.

14/03/2017

A Esperança

"A Esperança é o sonho do homem acordado". Aristóteles.

Comodamente sentado na frente de um computador, na repartição onde trabalha o indivíduo, gozando da bondade de um ar condicionado que transforma o calorão em um quase inverno, vocifera de vez em quando: “no passado não acontecia estas coisas”. Demonstra que gostaria isto sim, que uma ordem muito forte imperasse neste Brasil de Deus. A verdade é que sente saudade da ditadura. Acredita piamente que algumas estocadas de baioneta, somadas à liberdade de manifestação acabariam com esta bagunça generalizada que ocorre no país. Para evitar que passe batido, um de seus colegas argumenta que a pior democracia é melhor que a melhor das ditaduras. Mas ele não ouve. E nunca ouvirá. Está convencido. Os males do Senado, da Câmara, a roubalheira que impera em todos os níveis, a falta de pudor, a ineficiência das leis, está tudo errado neste pedaço de chão. E tudo é tão simples, bastava uma direção segura e armada, dura, inflexível, para que, num passe de mágica, estes problemas fossem superados.

09/03/2017

Os Fragmentos

GURU - O guru indiano tem barbas longas e brancas. Olha para a câmera e fala. Discorre sobre a vida. Tem alguma dose de humor. Não o escrachado. É um humor sutil. Brinca sobre os costumes tradicionais, sobre os padrões religiosos, sobre a tendência do culto à personalidade, sobre a posse do objeto. Fala de tudo um pouco.
Algumas vezes diz coisas que me dizem respeito. Outras nem tanto. Pelo menos por enquanto. Dia desses falou algo que pensei. Pensei em escrever, mas não escrevi. Isso é recorrente. Nas minhas caminhadas frequentes, penso, elaboro teses e mais teses, concebo uma crônica todinha ou em fragmentos, respondo perguntas que não respondi há algum tempo quando as palavras me faltaram, faço discursos mais empolados ou mais diretos.