25/09/2013

Olhares diversos

Num desses papos despretensiosos, onde o que mais se quer é filosofar, disse em alto e bom som que não há órgão de imprensa imparcial. Todos estão comprometidos. Antes que pudesse seguir na linha de raciocínio que vinha sendo traçada, outro se deu por ofendido e, tal qual um suicida que se lança na frente da locomotiva, avocou a si e à empresa que representa a total democracia e transparência. O sujeito cresceu na minha frente. Suas veias do pescoço subitamente inflaram. Suas narinas se alargaram como que buscando mais oxigênio no amplo ambiente em que nos encontrávamos. Parecia um herói de historia em quadrinhos em plena transformação.
Cheguei a pensar que ele sofreria algum distúrbio sério tal a transformação que experimentara em questão de segundos.
Claro que o debate a que me propunha não se efetivaria no âmbito emocional. Aliás, para discutir esta questão com certa responsabilidade é necessário, isto sim, sair da defensiva e assumir uma posição analítica, racional. O que, convenhamos, é pouco usual no nosso dia a dia. Normalmente estamos acostumados a posições cristalizadas, inflexíveis, do certo e do errado, do correto e do incorreto, do normal e do anormal. Pode ser ou talvez seja ou, ainda, quem sabe são concessões muito caras. Nos dias que se passam mesmo questões sérias são reduzidas a papo de torcedor. A futebolização toma conta de todo. 
O olhar apaixonado, focado em uma só possibilidade, em uma única via, afasta outras realidades possíveis. Na vida há outras vias, outras possibilidades, outras posições tão ou, quem sabe, muito mais respeitáveis do que aquelas eleitas por nós como as mais corretas. Abortar a discussão porque as teses antagônicas são “inadmissíveis” é pouco inteligente.
Pois bem, voltando à imprensa. É lógico que os meios de comunicação são sim comprometidos. É normal que sejam. Os grandes são mais comprometidos ainda. E isso não é pecha, não é defeito. É o que se espera. O imparcial não fede nem cheira. Ele não levantará bandeiras, ele não dará opinião. Ele somente vai reproduzir o que os outros dizem. Porém, ainda assim, mesmo que não saiba, ele, que pretende ser imparcial, estará sendo parcial. Porque vai escolher quem vai ouvir, vai eleger aqueles que vão representar as correntes de pensamento.
O que torna a imprensa parcial é a pauta. Quando ela opta por um assunto necessariamente está abandonando outro. Afinal de contas, a mídia tanto quanto todos nós somos, é seletiva. Ninguém pode agradar a todo mundo. No dia a dia nós fizemos opções. É um processo tão natural que nem nos demos conta disso. Ou seja, quase sempre ficamos com uma parte e abandonamos a outra possibilidade. Não necessariamente a ideia que adotamos é a correta. Muitas vezes a que foi descartada é a melhor opção.
A mídia não é imune a este processo. Ela escolhe e descarta. Nem sempre escolhe as melhores ideias, os melhores valores. Por isso é necessária a diversidade. Abordagens múltiplas. Olhares diversos. Não fosse assim e a Terra ainda seria o centro do Universo. 

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