Meninos jogando futebol - Alfredo Volpi |
A gurizada corria para lá e para cá, atrás de uma bola, subindo em cinamomos para colher os frutinhos que, depois, seriam arremessados de bodoque. Os furtos de goiabas, bergamotas e laranjas, muitas vezes ainda verdes, eram tolerados e até incentivados pela vizinhança que não via mal qualquer naqueles pequenos seres. O tempo corria numa preguiça só. Os dias de Primavera e Verão, então, eram longos. Cansávamos de tanto brincar. Não havia preocupação com violência. Droga não havia por ali. Talvez um ou outro pai na vila abusasse da cachaça, do conhaque, do bíter. Porém, bebida alcoólica não era droga. Ou, pelo menos, naquele tempo ninguém dizia isso. A violência que casualmente nascia do consumo excessivo de álcool ficava circunscrita ao âmbito familiar. O sofrimento era velado, sem escândalo, sem grandes comentários.
A cidade era calma. O centro era chamado pelos suburbanos de Vila. Ali se encontravam os melhores mercados, as lojas, as escolas, o hospital, o cemitério. Era outra vida. O nosso acesso à vila era restrito. Somente em ocasiões muito especiais, como no Dia da Pátria, por exemplo. No mais, tudo transcorria normalmente no subúrbio.
O sonho que cultivava era de jogar pelo Brasil. Depois, um pouquinho maior, nas aulas de Educação Física, comandadas pelo professor Rutílio, no campo do CACT, ainda sobrava alguma esperança. Não tinha noção de que, às vezes, os sonhos de um menino são sepultados pela realidade. No caso do futebol, necessário se faz que haja talento, que haja preparo, que haja biotipo, que olhos constatem aquele talento e lapidem aquela pedra bruta. Muitos requisitos juntos. Muito investimento. Ocorre o mesmo com os pequenos que sonham com carreiras de modelos, de cantores, de atores, de médicos e juízes. Muitos meninos nem sonham com isso. Seus frustrados pais, porém, tentam de maneira reflexiva transferir a seus rebentos suas aspirações não atendidas ao longo do tempo. Frustram-se mutuamente. Os meninos, mantidos em rédea curta, e os pais sonhadores.
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