18/01/2012

Som sem preconceito

Sou uma pessoa musical. Não tenho preconceito. Nasci ouvindo música. O Teixeirinha, o Gildo de Freitas, o José Mendes, o Pedro Raimundo, os trovadores do Grande Rodeio Coringa, da Rádio Farroupilha, foram parceiros de infância. Depois surgiram os sertanejos antigos, aquelas duplas mineiras, goianas e paulistas que cantavam o Brasil interiorano a plenos pulmões. Léo Canhoto e Robertinho, Pedro Bento e Zé da Estrada, Milionário e José Rico, sempre apresentados pelo talentoso Zé Bétio. Coisas de interiorano, de um Brasil com vocação rural.
Minha vocação, no entanto, revelou-se urbana. A enxada e a pá não fizeram calos na minha mão. Já no fim da infância surgiram outros nomes como Secos e  Molhados, Raul Seixas Rita Lee, Erasmo Carlos e Milton Nascimento. Conforme crescia, me aproximava um pouco das canções com conteúdo.  O ouvido foi gostando de Chico, Caetano, Elis e Gil foram parceiros de adolescência. Muita coisa não entendia. Meias palavras, metáforas, jogos de linguagem, expressões que pareciam dizer uma coisa, mas no fundo queriam dizer outra bem diferente. Eram os subterfúgios usados para fugir da censura e até da porrada dos defensores do regime do medo.
Depois, quando a casa caiu, os militares voltaram para a caserna, o rádio se alegrou. Não era mais medo não, os jovens tiraram da sepultura o velho rock and roll. Ao invés de jaquetas de couro, pretas, camisas coloridas, calças berrantes e versos displicentes, alegres como se a festa não tivesse hora marcada para terminar. “Você não soube me amar”, dizia a Blitz, juntando música e teatro. Não havia tanta seriedade. As canções eram leves, suaves, ingênuas como eram aqueles tempos. Léo Jaime, que vez por outra dá o ar da graça na tevê, fazia também suas lambanças junto com Lulu Santos e outros menos votados.
Renato Russo e sua legião chegaram apresentando toda a sua acidez, com suas canções soturnas. “Que país é esse?”, gritavam em alto e bom som, com certo desencanto, mostrando um país de lama, de corrupção, uma terra desorganizada que parecia que penaria a vida toda sem jamais abrir uma nesga de chance para a felicidade de seu povo.
Todos estes sons se passaram. Alguns deles ainda significam alguma coisa. Ainda trazem de volta alguma emoção. Outros, porém, vão se perdendo aos poucos. Nestes dias que se seguem, entre uma e outra nova canção (destes sucessos que tocam nas rádios), ouço aqueles velhos hits que um dia foram o novo, o melhor e o mais significativo recado aos nossos ouvidos de então. Em alguns destes sons ainda permanece certa magia. Em alguns!


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