Eu mesmo já assisti a um jogo de final de Brasileirão na torcida adversária. Ali, menti descaradamente. Era uma questão de sobrevivência. Quando meu time atacava, era só silêncio. Quando o adversário pegava a bola todos a meu lado se levantavam. Eu, claro, levantava junto. Fazia de conta que sofria. Segurei o grito de gol na garganta. Vaiei, sem muito ânimo. Vibrei, sem entusiasmo. Felizmente o jogo terminou empatado. Somente pude ser verdadeiro bem longe do estádio.
A mentira faz parte da vida. Ela começa lá na infância. Segundo dizem, por volta dos quatro anos e meio as crianças começam a notar que é bem mais fácil distorcer a realidade do que encará-la de frente. E percebem isto observando seus pais. Os pais mentem. Os filhos repetem. Se não forem, as crianças, corrigidas, a mentira será incorporada como algo normal, como uma defesa para evitar castigos.
A criança, no seu mundo de faz-de-conta, incorpora a mentira como mais uma de suas fantasias. Na adolescência, o indivíduo vai lentamente construindo seu novo mundo. Mais responsabilidades, mais expectativas. A vida começa, enfim, a ficar em suas mãos. A mentira faz parte de seu mundo. Ainda é difícil afastá-la por completo. Não desejando explicar, muitas vezes o jovem se vale da mentira.
A mentira é socialmente aceita. Quem nunca mentiu que estava 100%, mesmo quando estava com o moral lá embaixo? É uma mentira social. Não queremos apoquentar as pessoas com nossos sofrimentos, nossos desânimos passageiros. Quem nunca falou para alguém algo que ela estava desejando ouvir? Neste caso a mentira pode funcionar como um motivador, como algo positivo. Mas não deixa de ser uma mentira. Cruzar os dedos não tem o condão de cortar a mentira.
No nosso dia a dia a mentira é constante. Os comerciais de tv são grandes mentiras. As famílias que consomem determinada margarina são lindas, alegres e perfeitas. As jovens donas de casa, belíssimas, em suas casas, belíssimas, só usam aquele sabão em pó. Até incentivam seus belíssimos filhos a se arrastarem porcamente pelo chão. E, ainda, sorriem. Claro, confiam na ação do sabão em pó preferido. É muita criatividade. Não deixa, porém, de ser uma mentira deslavada, daquelas que não conseguem ser clareadas nem com o propagado sabão. Por outro lado, é uma mentira aceitável, visto que ninguém acredita realmente que o produto tenha tanto poder assim.
O problema é quando a mentira passa a ser uma norma de vida. Quando o indivíduo usa e abusa da lábia, da argumentação fácil para iludir e perpetuar a falsidade. E isso não é tão incomum. Diz-se que na guerra, na diplomacia e na política, por exemplo, a mentira é uma estratégia, uma imposição.
Seres normais como a gente, que não vive as agruras da guerra, que não está envolvido em assuntos de relevância entre as nações, que não frequenta os acarpetados gabinetes do poder não necessita da mentira. Os tiranos, sim. Os corruptos, sim. Os estelionatários, sim. A mentira, neste caso, é indispensável. Ela é o meio para que o indivíduo atinja o resultado proposto. Nós, que fizemos parte deste exército de comuns, não precisamos deste expediente. Tá bom! Sejamos honestos: no máximo nos valemos da mentirinha social, da mentirinha caridosa, da omissão da verdade, quando isto é uma exigência de vida ou morte! A mentira deslavada, esta sim leva ao sobressalto. Mais dia, menos dia e ela aparece. Se utilizarmos o expediente do tirano, tirano seremos. Os tiranos não são felizes!
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legal
ResponderExcluirParabéns, adorei as imagens.
ResponderExcluirEstou escrevendo um livro sobre neurobranding e gostaria de pedir permissão para utilizar algumas destas imagens. Caso haja autorização, por favor escrever para ikty001@gmail.com
agradeço muito
grande abraço
Sandra Regina da Luz iácio
Pois, a mentira acaba sendo uma auto ilusão de que tudo vai dar certo na falsa verdade. Tenho até a impressão que a mentira, em alguns setores das sociedades acaba sendo um traço cultural ...
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