O palhaço é uma figura antiga. Acredita-se que sua origem tenha ocorrido há 2500 anos antes de Cristo. Naqueles tempos um artista popular era mantido na corte para entreter o rei. Era conhecido como o Bobo da Corte. É clássica a imagem do soberano entediado mandando o bobo para o calabouço ou para a forca, após uma apresentação sem brilho. Assim, o pescoço do indivíduo dependia do humor do chefe do reino. Rindo o rei, seu pescoço estava a salvo.
Da corte o bobo foi para o teatro popular. O personagem italiano divertido da Comedia Del Arte, no século XVI, com roupas coloridas, sapatilhas enormes e máscara nada mais é do que o velho bobo da corte customizado. Daí surgiu o palhaço que conhecemos. Todos ganharam com isso. O povo, que teve acesso ao direito de sorrir como um rei e o bobo, que garantiu a incolumidade do seu corpo, mesmo diante de uma atuação displicente.
Indispensável no mundo circense, a figura vez por outra brilha em outros meios. Charlie Chaplin imortalizou o vagabundo Carlitos, um palhaço de estirpe, cheio de graça, divertido e emotivo. Os Três Patetas, o Gordo e o Magro, Abbot e Costello não passavam de ingênuos e graciosos palhaços. Por aqui, Carequinha, Arrelia, Bozo e Os Trapalhões fizeram a alegria de gerações.
E é justamente uma figura caricata como o palhaço que vem sendo notícia neste período eleitoral. No final de semana se noticiou que algumas pesquisas apontam que o candidato a deputado federal de São Paulo, o cearense Francisco Everardo, será o campeão de votos no Brasil. Conhecido popularmente como Tiririca, o candidato é o Cacareco deste pleito.Os mais jovens não lembram (eu mesmo sei por ter lido a respeito), mas era costume no passado, quando as cédulas ainda eram de papel e as urnas eletrônicas não eram nem peça de ficção, a indicação de candidatos alternativos como forma de protesto. Cacareco era um simpático rinoceronte do zoológico de São Paulo. Em 1958 foi o candidato mais votado, recebendo 100 mil votos.
No final dos anos 70, o jornal O Pasquim, formado por Jaguar, Millôr Fernandes, Ivan Lessa, Paulo Francis e Ziraldo, entre outros, zombaram dos militares ao incentivar a votação no Macaco Simão. No descolado e irreverente Rio, votar no Simão era protestar contra o regime.
Macaco Simão e Cacareco eram criações de gente talentosa. Foram eleitos e não puderam assumir seus cargos. Pensando bem, este e outros que aí estão não podem ser chamados nem de palhaços. Suas anedotas não chegam ao fim. A gente ri porque a situação é desconcertante, sem graça. Se dependesse de um riso, certamente perderiam a cabeça.
A notoriedade alcançada pelo atual cacareco chamou a atenção das autoridades. Na última segunda, dia 20, os sites de notícias davam conta de que o atual candidato cacareco está sendo investigado e que há uma série de processos em andamento com delitos como falsidade ideológica e outras fraudes. Como se vê, o enredo começa a beirar muito mais para o drama do que para a comédia.
Não se deve culpar o bobo da corte por tudo isso. Certamente preencheu os requisitos legais e necessários para apresentar a candidatura. Além do mais, ele certamente está só se divertindo. E não está só. Se concorrer deverá ter mais de um milhão de votos. Raça forte esta dos bobos da corte. Espalha-se como inço. Seguindo este ritmo, não demora toma conta do Brasil! E isso, com certeza, não tem graça nenhuma!
Ilustre
ResponderExcluirRealmente preocupa esta tendência popular em apoiar um "bobo da corte" para fazer parte dos que estão ao leme da barca legislativa, que embala nossos destinos cidadãos.
Contudo, isto nada mais é do que uma reação, ainda pueril do ponto de vista de cidadania, ao panorama de irresponsabilidade de muitos políticos que foram eleitos pela também irresponsabilidade, ou ignorância no sentido de desconhecimento, dos que os elegeram.
Acho que este contexto bem daria um trabalho acadêmico para tentar entender o que acontece.
Seria chacota do povo para consigo mesmo, numa autopunição ao não saber eleger?
Seria uma forma de protesto infante ao não entender por que as coisas não andam bem?
Ou é uma inconsciente sabedoria popular em dizer aos mal intencionados: chega!
Eu, confesso, tive muitas vezes essas tentações de fazer um voto "bobo".
Mas até hoje não bebi o vinho deste cálice ...
Abraço.