El gaucho cantor, Leon Pallière* |
A história gaúcha contada a partir das ações espetaculosas é verdadeira epopeia. Daquelas tão ao gosto dos historiadores antigos, com atos de bravura, de doação, de sangue e sacrifícios. O homem e seu cavalo, como um só ser, livres, marchando em direção ao perigo, enfrentando tormentas, desbravando os confins, enfrentando inimigos, por vezes os espetando mortalmente com suas lanças.
Esta figura errante, gaudéria, sem freios, sem medo, sem dor, que desafia a tudo e a todos, que não se abaixa, não verga a coluna pra nada é, no entanto, mera figura da literatura. Este taura, cantado em verso e prosa, de queixo duro, xucro, ainda vibra na música de Pedro Ortaça ou em algum galpão campeiro, onde entre um verde e outro se esbaldam os convivas em contar causos de outrora. Ali se lembram de contendas que não viveram, de peleias que ouviram dizer, de lutas que talvez até tenham ocorrido. Sem pudor, tornando os feitos ainda maiores, ajudam a manter o mito do guerreiro, do conquistador, do guasca.
Os tempos hoje são outros, desbravadas as missões, conquistadas as fronteiras, estabelecidas cidades, os gaúchos não são os mesmos. São os negros dos quilombos, são os alvos descendentes de alemães, russos, italianos, todos misturados aos nativos e aos portugueses que aqui chegaram primeiro. A luta, porém, é por outras causas. As lanças descansam em algum lugar. Não fazem mais falta. Os desejos agora são outros. Uma vaga na universidade pública, um estágio qualquer, um trabalho, um concurso público.
Não cerram fileiras. Não formam pelotões. As lutas são individuais. A competição é intensa. A peleia é grande. O esforço e a vontade são componentes indispensáveis nesta contenda. Neste estágio, quando qualquer possibilidade de fracasso se apresentar, vale (e vale muito!) lembrar os feitos de antepassados que habitaram esta terra. Valentes e peleadores, verdadeiros ou ficcionais, de algum modo emergem nos momentos de dificuldades.
Pensando bem, estes homens do passado, que vivem nas ideias, no folclore, nos cantos e nas prosas, somos nós mesmos, encarando os desafios, traçando as nossas fronteiras, transformando nossa brutalidade, nosso ímpeto em ações construtivas. Sorvendo um mate solitário (porque mateando a gente pensa), entramos lá dentro, no nosso interior, onde reside a grande querência e lidamos com nossos pequenos dramas. Sim, pequenos! Grandes hoje, mas enfrentados e vencidos tornar-se-ão somente lembranças.
Na terça-feira, dia 07, lembramos da Pátria. Da Pátria maior. O Brasil. Grande Brasil. Resistente Brasil. Dia 20 será o dia de lembrar o Rio Grande. Controvérsias históricas à parte, notícias caudalosas a todo o instante pelo rádio à parte, ainda assim, é bom ser gaúcho, é bom ser brasileiro!
*Ilustração: www.imagenshistoricas.blogspot.com
*Ilustração: www.imagenshistoricas.blogspot.com
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