Os
seres humanos cultivam múltiplos talentos e aptidões. Todo o mundo
é bom em alguma coisa. Muitos carregam habilidades diversas em maior
ou menor grau. Exímio jogador de futebol bem pode ter fluência em
matemática. Ora, quem disse que um atleta profissional tem,
necessariamente, que ser bom só no domínio da pelota? Preconceito
arraigado este de que quem é bom de bola não dispõe de outros
talentos. O médico dedicado à exaustão na lida com enfermidades,
curas e medicamentos bem que pode dominar técnicas artísticas como
a pintura, a escultura ou outra dessas coisas que caem bem como um
passatempo.
Os
animais, por sua vez, são especialistas. Quem não sabe que o macaco
é o rei das árvores? Grandes, médios ou pequenos, os símios
dominam a arte do equilíbrio e do salto, transformando as alturas em
seu chão. São, ainda, os reis da arte do riso, de zoação e da
brincadeira. São os palhaços do reino animal.
Na
cultura primitiva os animais apresentam importância ímpar.
Diferente, por exemplo, do que ocorre na vida atual, onde a pressa e
a busca por resultados vai sepultando o conhecimento empírico e
natural. O olhar endurecido pouca importância destina a essas
especificidades antigas. Hinduístas, budistas e xamânicos, com suas
peculiaridades, encontram conexões entre os humanos e os bichinhos.
Assim,
a aranha ganha novos ares. Dona de uma habilidade incrível vai
tecendo o seu caminho cheio de conexões. O lobo, que é o cão
primitivo, é o desbravador e precursor das novas ideias. Sua energia
aguça o professor que existe dentro de cada um. Já a coruja, que na
cultura popular flertava com o sentimento de mau agouro, destaca-se
pela sabedoria, furtividade, silêncio, rapidez nas decisões e visão
aguçada. Simboliza o feminino e a intuição.
Entre
todos, no entanto, talvez o animal que mais contradições e
sentimentos repulsivos carregue é a serpente. Afinal, numa análise religiosa, restritiva e engessada, a serpente é um dos seres mais
marcados pela aura negativa. Afinal, foi ela quem apresentou a maçã
para Eva e aí deu no que deu. De algum modo é tida como responsável
pelas mazelas humanas. Como se vê, vem de longe esta mania de
colocar a culpa no outro pelos resultados negativos. Mas, o mais
atento bem que pode ter notado que a cobra está no símbolo da
medicina, enrolada em um bastão. Não é engano, não. A serpente,
na realidade, carrega algo de renovação e de cura. Ela representa a
dualidade da doença e da cura, do conhecido e do desconhecido, a
existência e a imortalidade.
Generalistas
que somos, carregamos nos nossos ciclos características bem
específicas. Somos aranhas que constroem as estradas do destino,
somos lobos quando ensinamos e vamos na frente, somos corujas quando
enxergamos com lucidez. Ah, não nos esqueçamos que nosso corpo vai
se renovando, célula por célula em ciclos de alguns meses. Assim
como as serpentes, que troca a pela de vez em quando, também somos
capazes de cultivar o veneno no dia a dia.
Sorte
que, às vezes, desperta o macaquinho que reside dentro de cada um.
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