As
expressões certo e errado carregam uma aura de objetividade
raramente encontrada em outros termos. Pode-se dizer com quase
certeza que todas as pessoas sabem exatamente o que é certo e o que
é errado. Ou,
pelo menos, acham que sabem. No dia a dia, o senso de julgamento leva
as pessoas a definirem exaustivamente todas as situações para os
escaninhos do certo e do errado. Acostumados estamos a analisar, a
sentenciar, a decidir sobre as condutas humanas. Porém,
olhando-se com atenção a paisagem que nos cerca e o andar da
carroça, nota-se que entre saber o que é certo e o que é errado e
fazer aquilo que convém vai uma distância abissal.
Como
tudo na vida tem explicação, tenta-se, de algum modo, encontrar uma
resposta para este enigma. O certo nasceu na língua latina como
“certus”,
determinando
aquilo que é
seguro, determinado e garantido. Ou
seja, não há muito espaço para variações. Como dirira o poeta “o
certo é o certo”. O
termo errado também tem como origem o latim. Vem de “erratus” e
está relacionado a situações de falhas, imperfeições,
desajustes, enganos e inadequações.
Mas,
o que ocorreu para que termos tão taxativos experimentassem uma
variabilidade estrondosa? Ocorre que o julgamento vai depender da
posição em que o julgador se encontra. Se ele, por exemplo,
pertence a uma tribo de um dos povos antigos, daqueles que viveram
antes da ciência, da tecnologia e dos conhecimentos filosóficos,
acharia certo o sacrifício de animais e mesmo de pessoas para
agradar aos deuses da produção agrícola e da pecuária. As mortes
não seriam em vão, pois são plenamente justificáveis. Quem não
quer agradar ao deus todo poderoso que pode dar uma boa safra ou
matar o povo de fome?
Os
jovens escritores, poetas, jornalistas e advogados brasileiros que se
opunham à escravidão de negros africanos no solo pátrio estavam
certos. Porém, para os estanceiros e políticos escravagistas os
pensadores eram inimigos da pátria. Estavam errados.
Lá
nos tempos da inquisição, o clero acredita piamente que a
eliminação da heresia com corpos sendo jogados na fogueira para
terminar com o inimigo da divindade era coisa certa a fazer. Não
havia oposição ou se havia era muito silente. O medo do julgamento
impiedoso amedrontava, como era de se esperar.
O
certo e o errado, então, são volúveis. Se prostituem facilmente.
Vendem-se conforme o interesse, o alcance intelectual, a formação
cultural
e
a vontade do indivíduo. E, nem sempre, este processo se dá por
maldade. Muitas vezes o que ocorre é falta de conhecimento e de
lucidez.
Por
isso que, no momento, carrego comigo o entendimento de que o homem
apresenta alguma dificuldade em pronunciar um julgamento justo. Em
regra o julgador está comprometido de algum modo o que o afasta dos
princípios de justiça. Não falo de juízes nem desembargadores ou
ministros das altas cortes, muito embora estes também estejam
sujeitos às interferências normais, mas sim de pais e mães, de
tios, de avós nas suas relações familiares e de pessoas comuns que
usam as redes sociais como válvula de escape para destilar seus
ódios ou suas paixões.
Apesar
de certo e errado encontrarem-se tão embaralhados, o bem e o mal
continuam como termos que pouca alteração apresentam ao longo dos
tempos. Mas, isso já é outro papo que bem pode seguir numa outra
crônica. Ou não.
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