Idade da Pedra- Pintura – Mural Lacaux |
Quando
estávamos nas cavernas, o mundo era pequeno. A bem da verdade, era o
mundo grande lá fora, mas, os animais que tomavam conta do planeta
eram maiores e mais ferozes. Convinha manter-se perto do esconderijo.
E o que os olhos não enxergavam era como se não existisse. E os
olhos pouco viam.
A
segurança vinha em primeiro lugar. Era questão de vida ou morte. Os
descuidados eram punidos. E ficar por aí explorando os arredores era
coisa para poucos. Assim, o grande mundo se apequenava. Os donos eram
outros. Os limites eram o tamanho dos dentes, as garras e a
intensidade da fome.
Com
o aparecimento do fogo, da lança e de alguns instrumentos
rudimentares, o mundo foi crescendo. Num dado momento, quando as
cavernas já eram coisas do passado, os limites eram outros: o frio
excessivo em alguns lugares, a falta de alimentos, a seca e outros
inimigos contra os quais as armas eram bem pouco eficientes.
Não
se sabe ao certo, mas, em determinada era, os homens deixaram de se
preocupar com as feras e com variações climáticas. Começaram a
lançar olhos pelas coisas que os outros homens, agrupados em
pequenas tribos, faziam. E o olhar de cobiça foi crescendo. E as
tribos entraram em lutas para conquistar aquilo que não tinham.
Valia tudo: terras, plantações, animais, mulheres, meninos e
meninas para servirem de escravos. Valia a pena sair por aí, por
esse mundo enorme e sem fim, conquistando tudo o que se pudesse.
Algumas
dessas tribos criaram seus deuses e os homenageavam com tudo o que
tinham pilhado no campo do inimigo. E deram a isso o nome de vitória.
Acreditavam mesmo que seus deuses vibravam quando o corpo do inimigo
caia sangrando na terra. Sentiam mesmo que seus deuses os abençoavam.
E a benção crescia na medida em que as vitórias se acumulavam.
Assim, chegou um tempo em que não havia como não guerrear. Os
deuses assim queriam. Era uma questão de fé.
Porém,
toda a brincadeira por melhor que seja um dia cansa. Guerra, vitória,
fé. Tudo isso misturado começou a não fazer mais sentido. E alguns
aqui e acolá começaram a falar que os inimigos não estão lá, na
outra tribo. Que os deuses nem no céu estão. Que os troféus de
guerra são inúteis. E de loucos foram chamados. E disseram mais:
que os inimigos do homem estão dentro dele mesmo e que cada ser
carrega também dentro de si algo de divino. E isso soou engraçado
porque todo o mundo sabe que imperfeito é. Criou-se um problema, que
alguém chamou de paradoxo. Se o indivíduo é imperfeito e o Criador
não é, como pode o imperfeito carregar o perfeito dentro si?
Mas
um sábio, que nem chinês era, levantou e disse que o homem deve
buscar o autoconhecimento mergulhando nas suas entranhas, encarando
seus ácidos e seus açúcares. A partir daí criando um novo ser.
Como diz a gurizada: “tipo nascendo de novo”. Aí estaria o
sujeito agindo como um deus, criando um ser melhor do que aquele que
vinha claudicante pelo mundo afora. E este novo ser enxergaria o
mundo com outros olhos, pois a visão que tinha ficou lá atrás.
E assim caminha a humanidade.
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