Os exércitos antigos, formados
por mercenários, viviam da guerra. Nos raros momentos de paz, o tédio tomava
conta. Confinar-se numa pequena porção de terra , criar uma que outra vaca,
semear algum grão para enfrentar o inverno, era sinônimo de falta de animação.
Seus comandantes, homens fortes e valentes, pouco conheciam a expressão
piedade. Por tudo isso, o vencedor de cada batalha encontrava-se autorizado a
escravizar os vencidos, adonando-se das terras, dos rebanhos e das mulheres.
Era
a lei de então. Dura lei. A lei de quem tinha mais homens, mais munição, mais
coragem, mais estratégia, mais sorte. Os deuses estavam com os vencedores. Os
perdedores foram abandonados por seus deuses.
Paz
era coisa rara. Sempre havia um inimigo a atacar, um castelo a invadir, uma
cidade a conquistar. A vida era, para aqueles homens, a própria guerra. E o
sangue que banhava a terra representava heroísmo de quem morreu lutando para
defender e coragem para quem impôs a espada. A conquista de território era o
prêmio para o comandante. A expansão dos impérios, impondo suas crenças e
valores, dava-se sempre pela espada. O produto do saque era o pagamento aos
bravos soldados. Tudo muito simples. Sem grandes apelações.
A
Europa cresceu manchada de sangue. Mas, nem só a Europa. O mundo se fez muito
mais pela guera do que pela paz. Que o digam os indígenas americanos. Os daqui
e os do hemisfério norte tiveram o mesmo fim. Dizimados por conquistadores.
Ouro, prata e terras.
Os
saques nos dias atuais são bem mais sutis. Mas, os males causados não são menos
devastadores. Executivos, deputados e senadores de todas as laias, com o apoio
de cupinchas de toda a ordem, tomam os cofres públicos de assalto. Antes,
passaram por guerras pesadas onde acertam nos gabinetes estratégias de conquistas de territórios: ministérios,
secretarias, departamentos, empresas mistas.
O
sangue não rega o chão. Mas o cheiro de podre, mesmo assim, se espalha pelos
céus. Alguns juram por Deus que são limpinhos. Mostram as mãos e não há marcas
visíveis. Porém, um observador atento, que olhe hospitais sem vagas para
internação de pacientes, filas e mais filas de gente que espera uma cirurgia
capaz de retirá-la da fila da morte, o escárnio que se comete contra os
aposentados, ressaltando diuturnamente de que seus justos e rasos benefícios
são os responsáveis pela quebradeira do país, de que as migalhas distribuídas
em forma de programa sociais vão inviabilizar as finanças da grande nação.
Chegou
a hora de apertar o cinto. Sem qualquer correção nos salários dos funcionários
públicos. Se quiserem coisa melhor que achem outra coisa para fazer. Aumento de
impostos porque os cofres públicos precisam de um reforço. Aumento da jornada de trabalho porque a vida do homem
comum é trabalho. Só o trabalho é capaz de dignificar o trabalhador.
Fosse noutros tempos ou em outros
territórios, como na França, por exemplo, isso seria uma declaração de guerra.
Nossos mercenários, no entanto, não empunham espadas. Usam terno e gravata.
Seus rostos são de bons moços. Têm modos e trejeitos refinados. E das tribunas
tratam-se por Vossa Excelência!
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