A impressão que todos temos ao olhar o quadro de medalhas, que ostensivamente vem sendo apresentado na mídia, é a de que o Brasil poderia e deveria subir uns muitos degraus. É francamente desanimadora a presença do país que, apesar do crescimento econômico, da estabilidade política, não consegue desenvolver uma política desportiva que privilegie os esportes olímpicos.
Há países muito menores que o Brasil e que, apesar disso, dão um verdadeiro passeio em nossos atletas. Não falo da China que investe milhões de dólares para formar vencedores profissionais. São jovens recrutados nas escolas, preparados cientificamente para vencer provas. São papas-medalhas, submetidos a uma rotina desumana desde a tenra idade. São outdoors do sistema chinês tanto quanto russos e cubanos durante o período da guerra fria.
Falo de países como a Jamaica que investe pesado no desenvolvimento de esportes de alto rendimento como os 100 e 200 metros rasos. Mas há os quenianos que contrariam a regra. Os investimentos são minúsculos, mas os resultados estupendos. Superam o abandono correndo pelo país. Depois conquistam medalhas em todos os cantos do mundo. Para completar o espetáculo passeiam nos Jogos Olímpicos com seus corpos magérrimos, suas pernas longas, passadas rápidas. São incansáveis. São inalcançáveis.
Os princípios do Barão de Coubertin, que deram origem aos jogos modernos, porém, estão sendo sumariamente ignorados. Não pelas nações atrasadas, pelos ignorantes do resto do mundo. É no chamado Primeiro Mundo que a vergonha se estabelece. Na Europa há uma discussão sobre a ética e a moral do recrutamento de jovens africanos que, em troca de algum trocado e da possibilidade de no futuro alcançar alguma notoriedade, estão se despindo de suas camisas do Gabão, do Quênia e de repúblicas em guerra por uniformes da Bélgica, da Suíça, da Suécia.
Nada contra os atletas. Eles estão na busca da sobrevivência. Querem sair de uma situação desfavorável. Buscam uma condição melhor. Ao menos estão recebendo alguma recompensa, diferentemente de seus antepassados que eram capturados de suas tribos, arrancados de suas famílias e vendidos como mercadoria para fazer a riqueza de nações que nada lhes davam em troca.
Francamente, não é o número de medalhas que valoriza a conquista. Um bronze, que para os mais exigentes por vezes transmite uma impressão de fracasso, pode representar para o atleta, seus familiares e patrocinadores uma grande conquista. Porque nem todos nasceram para ser um Usain Bolt. Há os que vêm atrás, os que chegam perto.
Todos gostariam de viver o glamour do atleta vencedor. Quantos, porém, passariam pelas privações que passam? Quantos superariam as dores que a rotina de cansativos treinos? Quanto superariam os primeiros fracassos?
As medalhas representam a glória. Porém, não há glória sem esforço, sem trabalho, sem suor, sem investimento. Medalhas, medalhas, todos querem, poucos as têm!
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