29/08/2012

As aparências enganam

Elis Regina
As aparências enganam aos que odeiam e aos que amam. Diz a bela canção imortalizada pela extraordinária Elis Regina, de autoria de Sérgio Natureza e Tunai. Nada mais correto. As notícias divulgadas nos telejornais insistentemente confirmam a tese. Na política: “Fulano de Tal, influente deputado, recebia recursos de empreiteiro”. O político e o empreiteiro até então figuravam nas colunas sociais. Exemplos de homens probos, prósperos, corretos e todos os demais adjetivos que se possa usar para definir um indivíduo do bem, descobertos passam para o lado dos corruptos, dos delinquentes, juntando-se aos desonestos da escória nacional.
Porém, durante muito tempo ostentaram uma aparência de confiáveis. Caminharam ladeados por outros tantos que se beneficiaram dos contatos, dos contratos e das mamatas concebidos com o intuito de sacar dos cofres públicos recursos que farão falta na saúde, na segurança e na educação de milhões de pessoas. Como as aparências enganam.
Violência doméstica. Não raro o aparente casal bem sucedido, apaixonado ao extremo, esconde uma relação violenta. Os amigos por vezes nem imaginam o sofrimento que um dos dois vem sendo submetido no silêncio do convívio diário. Por vergonha, por falta de oportunidade, por falta de forças, muitas vezes a vítima sucumbe diante dos olhares de surpresa dos mais próximos. Acreditavam na aparente seriedade, na aparente gentileza, na aparente dedicação do agressor.
Em alguns setores, no entanto, é até indicado pelos profissionais que se invista e muito na aparência. É o caso das entrevistas para emprego onde o candidato deve parecer confiável, deve parecer confiante, deve parecer compenetrado, deve parecer competente. Ufa! Haja máscaras para burlar o processo. Além disso, deve parecer original. Tarefa das mais difíceis.
Porém, as empresas, após constatar que o funcionário contratado abandonava logo logo as aparências que o indicaram ao cargo, começaram a ser mais rigorosas. Criaram-se estratégias para medir liderança, criatividade, capacidade em lidar com pressão, com crise e outras situações mais próximas da realidade. Com isso, já não basta mais um rostinho bonito, uma maquiagem bem feita, uma roupinha das mais apropriadas nem maneirismos decorados de manuais antigos. 
Resolveram o problema? Claro que não! Os critérios avaliativos, subjetivos que são, sempre deixam alguma brecha. O ser humano, surpreendente como ninguém, é capaz de superar mesmo os testes mais bem preparados. O aparentemente perfeito só é perfeito mesmo na aparência. Na realidade “a perfeição é uma meta”, como diria outra canção – Meio de Campo, do Gilberto Gil - interpretada pela mesma Elis Regina. 
A gauchinha que conquistou o país há décadas morreu há mais de 30 anos. Aparentemente morreu. Ainda hoje sua voz forte, vibrante, emotiva, incontida transborda por aqui e acolá. As aparências enganam.

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