03/08/2012

As boas notícias

As maiores notícias não estão relacionadas a acontecimentos positivos. As mais lidas, as mais acessadas, as preferidas do grande público são as grandes tragédias. Mortes violentas e acidentes dramáticos causam emoção, compaixão e envolvem os leitores, ouvintes e espectadores. Puxam os ávidos olhos que se fixam automaticamente na televisão, no jornal ou no site de notícias.
Os jornais publicam com destaque. A tevê dá ênfase. O rádio transmite ao vivo. Os sites atualizam a notícia com novos dados segundo a segundo. O objetivo é saciar a sede de informação. Quanto mais chocante a informação mais valiosa é.
Mesmo nós que militamos na imprensa por décadas vez por outra nos perguntamos: onde estão as boas notícias? Será que temos necessidade de ouvir, de ler, de acompanhar tantas tragédias? As pessoas não cansam do verdadeiro bombardeio diário que sofrem?
Pior é que não, responderia uma conhecida minha que usava sempre esta expressão tanto para o bem quanto para o mal. Sabe-se que o ser humano carrega algo de doentio em seu íntimo. Uma verdadeira luta íntima se estabelece num misto de sentimentos de compaixão, de curiosidade e uma série de outros instintos que escapam à racionalidade. Isto talvez dirija a atração pelo chocante, pelo curioso, pelo bizarro e pelas notícias que mostram o sofrimento alheio. Não chega a ser uma patologia, mas revela uma preferência pelos temas que revelam algum drama.
Nos últimos tempos, porém, a mídia tem se superado. Pipocam aqui e acolá matérias com razoável destaque de gente como a gente que, mesmo vivendo em condições desfavoráveis, surpreendem pelo altruísmo de suas ações. Moradores de rua, vivendo ao relento, desprovidos dos recursos mínimos e aceitáveis para uma vida dita digna, encontram uma bolada de dinheiro e procuram os proprietários. Devolvem o que não é deles.
Agora é a vez do pedreiro Luzimar que achou R$ 30 mil no matagal, em Minas Gerais. Procurou a polícia militar, que encontrou o dono e entregou tudo. Não faltarão aqueles que comentarão a notícias nos sites chamando o nosso Luzimar de panaca, bobão e outros adjetivos. Alguém lembrará que nosso país é uma corrupção só. Que as finanças do Brasil sofrem o achaque diário de corruptos de toda ordem, de todos os níveis. Lembrarão que prefeitos, secretários, alguns governadores, muitos deputados e senadores, dirigentes de autarquias, gente de todos os escalões estão sacaneando as finanças públicas desviando rios de dinheiro, prejudicando todos nós, os contribuintes.
Muito bem Luzimar! Certamente um dia ouviu de sua mãe, tanto quanto todos nós que estamos aqui no andar debaixo, que não devia ficar com aquilo que não era seu.
Boas notícias nascem de pequenos fatos. Não são suficientes para ocupar a primeira página dos grandes periódicos nem para gastar grande tempo do Willian Bonner. No máximo a redenção e uma última notícia, antes do "boa noite!". Já é alguma coisa. Honestidade, que deveria ser a regra, virou assunto de jornal. Pior, diria novamente uma conhecida minha.

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