27/04/2018

O não-saber

Pouco mais de 4% da matéria
que compõe o universo é conhecida
Um pouco mais de 4% de tudo o que existe no universo é conhecido. Mesmo que não seja muito bom em matemática, posso deduzir, com algum grau de certeza e sem medo de falar uma besteira, que algo em torno 96% de tudo o que há por aí, entre vivos, mortos, vistos e sentidos são meros desconhecidos. Ora, a física explica, então, uma pequena parte dos fenômenos existenciais porque o desconhecido, por si só, não tem explicação.  Talvez por isso mais sábio é quem admite que nada sabe,  ou pouco sabe, do que quem arrota sua sabedoria no contato privado ou socialmente através das redes sociais.
Diante disso tudo crescem sobremaneira os conceitos relacionados às possibilidades em detrimento daqueles ligados às certezas. Como ter certeza se o desconhecido é imensamente maior do que o conhecido? Eis a questão.
A academia, centrada sobre as certezas construídas a partir da observação e da reprodução dos fenômenos em laboratório, vez por outra tripudia e valoriza o pouco que sabe. As ciências estabelecidas firmam padrões, cobram fidelidade. E aí, hoje ovo faz mal, amanhã faz bem. Um pouco de vinho ao meio-dia é um santo remédio, amanhã não é mais.
Nesta luta renhida entre o saber e a especulação até gênio paga mico. Que se dirá dos atávicos? Albert Einstein, que compreendia o mundo como poucos, acreditou que construir a bomba atômica seria um ganho para os americanos em relação a Hitler. Apostou, ainda, que os princípios da Física Quântica eram meros devaneios e que aquelas equações não tinham o condão para explicar o funcionamento das coisas. Morreu aos 76 anos e, não obstante sua contribuição para a ciência, sofreu duas derrotas. Uma bomba é uma bomba sempre. Nas mãos de americanos ou de alemães causa o mesmo estrago. A Física Quântica, por sua vez, apesar de pouco compreendida, está por trás dos maiores avanços dos tempos atuais.
Os orientais - não estes que estão aí vendendo ações na Bolsa de Valores de Nova York, nem copiando marcas famosas para vender tênis e camisetas para o terceiro mundo-, os verdadeiros orientais que estão nas páginas dos surrados livros, valorizam o silêncio como expressão de sabedoria. Nada mais certo. Falar demais com demasiada certeza leva ao engano. Lao-Tsé, um chinês sábio sobre quem residem dúvidas se realmente existiu, revela no Tao-Te-Ching que “quem conhece a sua ignorância revela a mais alta sapiência. Quem ignora a sua ignorância vive na mais profunda ilusão”.           
E os mortais, que ilustram seus perfis na rede com seu sorriso mais belo, morrem a cada dia quando defendem verdades inatacáveis na política, no esporte, na justiça e na filosofia. Carregam certezas. Não dão espaço para milhões de possibilidades que estão por aí, loucas para se tornarem reais. “O sábio conhece o seu não-saber. E essa consciência do não-saber o preserva de toda a ilusão”.  Quem admite não saber? Nos dias de hoje?  Ninguém!

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