02/04/2018

A Pressa

John Wayne
Nos velhos filmes do Velho Oeste só sobreviviam os que eram rápidos no gatilho. A rapidez era sinônimo de vida. A lerdeza era punida com um punhado de balas. Ao menos assim era nos filmes estrelados por John Wayne e Clint Eastwood, que faziam justiça com as próprias armas e eliminavam os valentões e bandidos que saqueavam os rancheiros norte-americanos. A mesma destreza valia para eliminar os temidos indígenas que atacavam os colonos numa luta sanguinária pela terra. Mas, neste caso, já é outro história. Os índios, retratados como cruéis assassinos eram os mocinhos da história, mas isso não era levado em conta por roteiristas, diretores e pelos expectadores. Naqueles tempos, índio bom era índio morto.
De algum modo, nos dias de hoje, o  bang-bang prospera. É preciso ter pressa. Resposta retardada nem resposta é. Ou fala agora ou cala para sempre. A rede social é o cenário desta cultura da ansiedade. Importa chegar na frente. Surfar na onda do pioneirismo.  O jogo nem terminou e já há uma enxurrada de memes. Chega a ser impressionante. Engraçado, é claro. Mas, surpreendente.
Da mesma forma, impressiona a maneira com que notícias falsas, hoje chamadas de fake news, ganham a dianteira e se espalham como fogo em mato seco. Em minutos todo o mundo está falando de coisas que já numa primeira análise parece ser uma invencionice, mas, sem base, sem lastro, vai conquistando a atenção dos crédulos, dos pouco esclarecidos e daqueles que compartilham por impulso qualquer bobagem que aparece.
Alguns vão pensar: isso não é um problema. O mundo tem coisas demais para se preocupar. Um boato aqui outro acolá não fará mal a ninguém. O pior é que informação falsa causa problema sim. Gera desentendimentos, cria sentimentos de angústia e, muitas vezes, aduba sobremaneira o ódio.
O engenheiro que criou o Orkut, o turco Orkut Büyükkökten, considera preocupante este fenômeno da artilharia de  notícias falsas e dos boatos que ganham vida  nas redes diariamente. Ele adverte sobre a falta de empenho dos comandantes destas redes sociais em investir em pessoas para eliminar boa parte destas informações que criam um mundo ainda mais falso. Também lamenta que os processos políticos dos países venham sendo  influenciados por estas informações distorcidas.
Orkut lembra, ainda, que o internauta que compartilha uma postagem falsa, mesmo que não tenha ciência da falsidade, tem sim responsabilidade sobre o conteúdo que compartilhou. Nem sempre é necessário pressa. Às vezes uma pesquisa básica pode evitar constrangimentos. Disseminar mentiras sempre vai trazer prejuízos. Virtualmente elas trafegam com mais rapidez. Ganham o mundo em segundos.
Rui Barbosa, jurista brasileiro renomado, ao analisar a rapidez com que se redigiu o Código Civil Brasileiro, no início do século passado, cunhou a expressão: a pressa é inimiga da perfeição. Depois, em discurso na Corte de Haia, emendou que  “a pressa é também a mãe do tumulto e do erro”.   

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2 comentários:

  1. Certamente meu nobre cronista. A palavra pública precisa estar sempre vestida recatadamente de responsabilidade.

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    1. Confunde-se hoje, mestre, sinceridade com falta de responsabilidade. Lamentável. Afinal, nem tudo merece resposta. Às vezes, calar é o melhor negócio.

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