02/04/2018

Hoje, amanhã e depois


O Facebook pergunta: o que você está pensando. O Facebook responde: não, não precisa dizer. Nós sabemos o que você pensa!

Não vou cair na esparrela de repetir tudo o que se disse nos últimos dias. Nem vou usar este espaço aqui para jogar ainda mais negatividade quanto ao futuro do país e da humanidade. Muito menos vou aproveitar para lamentar que uma desembargadora, do alto de sua respeitável posição jurídica, tenha usado argumento de discussão de mesa de bar para condenar o morto ao invés de quem matou. Nem vou lembrar outra desembargadora, que se valeu de ironia para criticar uma jovem com Síndrome de Down que exaltava sua alegria em ter concluído um curso para educadora. O Brasil vem surpreendendo o mundo.  E não é pelo bolão que vem jogando. É pela bola que não joga.

Chega de maniqueísmo. Chega de definir que este lado representa o bem e o outro, o que não estou, representa o mal. Isso não leva a nada. Até sinal de trânsito tem mais do que duas possibilidades. O mundo não se encerra em comunistas e patriotas, em militares e defensores de Direitos Humanos, em aliados a bandidos e defensores dos honestos e bons.                O mundo pequeno e tacanho da dicotomia é restrito demais para quem pensa. É um mundo sem graça. É pesado. Se fecha na ignorância e na pressa em espalhar boatos, em validar versões, em julgar sem critérios, em opinar sem o mínimo de informações e embasamento. É um mundo apaixonado. Sem razão. Só emoção.
Engana-se quem acha que é só o Brasil que passa por isso. Qual nada! Nosso mundinho está assim mesmo. Dividido. Emotivo. Elegem-se inimigos, criam-se embaraços num chafurdo tal que, às vezes, é difícil saber para que lado a turba marcha. Dia desses, num desses sites de notícias, aparecia uma informação surpreendente.  Um senhor, na França, compadecido com o sofrimento de uma mulher grávida, que enfrentava gélida travessia, prestou pronto auxílio, valendo-se de seu sentimento humanista. Encaminhou a mulher para que pudesse ter um tratamento digno, ganhasse seu filho e garantisse sua integridade física.
No entanto, as leis são feitas para que se cumpram. E, na França, como em alguns países da Europa, o cidadão tem que denunciar qualquer situação de imigrante ilegal. Esse senhor, então, está sendo processado porque entre uma lei dura e uma postura humanitária preferiu dar a assistência a quem precisava. Claro que o agente da lei agiu no seu estrito cumprimento. Não há reparos a fazer. Lei é lei. Cumpra-se.
Porém, o que preocupa é o paradoxo criado: as leis são feitas para serem cumpridas ou o cidadão de bem, atendendo a seu sentimento humanitário, está autorizado a desrespeitar uma norma jurídica?
Este fato lembra aquela velha história militar que convenientemente mostra que um subordinado nada mais deve fazer do que executar as ordens. Contam que um militar chegou ao soldado e ordenou que daquela hora em diante não estava autorizado a abrir o portão para ninguém, sob pena de punição. Disse isso e deixou o local. Ocorre que havia esquecido no interior do quartel seus documentos. Tocou a campainha e o diligente soldado disse que tinha ordens expressas do comandante para não permitir o acesso de ninguém a partir daquele momento. 
O comandante, então, reagiu: “Quem está falando é seu comandante. Abra o portão. É um ordem!”. O soldado abriu o portão. Foi cumprimentado pelo comandante que, ato contínuo, providenciou na troca da guarda, pois, apesar de tudo, o vigilante havia descumprido a ordem e permitido a entrada de pessoa fora do horário estabelecido.
O problema talvez nem sempre sejam as leis. Em muitos casos, o problema está relacionado com quem produziu essas leis e qual a ordem que pretendia se estabelecer com a norma criada.  
                              


Nenhum comentário:

Postar um comentário