Política e futebol são dois
assuntos dos mais atrativos. São duas artes onde a criatividade dos atores se
revela. Há política em tudo. A vida diária das pessoas comuns é influenciada
pela política. O indivíduo pode gostar ou não, pode entender ou não: não
importa, a política vai influenciar no seu dia a dia. É o preço do combustível,
o falho sistema de saúde, a falta de professores nas escolas, a definição de
regras para mercado, o torniquete que
aperta o pescoço do trabalhador. Enfim, os políticos influenciam sim no ânimo
coletivo, nos sonhos, nas ansiedades, nos planos ou na falta de planos e
perspectivas, gostemos ou não.
O
futebol, importante para parcela significativa da população, é menos
impactante, é claro. Mas, ainda assim, é arrebatador para muitos. O futebol é
espetáculo, é negócio, é indústria. Mas é, também, paixão. Para muitos é a
própria vida. Não é exagero não. Há quem não saiba grande coisa sobre a vida
nacional, sobre o funcionamento das coisas, mas sabe a tabela do Brasileirão da
primeira à última rodada. Outros gastam
tempo e mais tempo fazendo elucubrações
táticas, prevendo avanço de laterais, cobertura de volantes, atacantes
com funções múltiplas, criando linhas imaginárias no campo defensivo e ofensivo
onde as peças vão se colocando para inviabilizar os perigos que a outra equipe
poderia oferecer.
Para
tantos outros, o futebol é bola na rede: quem ganha é herói quem perde é perna
de pau, treinador é burro e juiz é ladrão e “cala a boca, Galvão!”.
Noto
que nos últimos tempos, os fatos políticos têm aproximado ainda mais política e
futebol. Há muita paixão e muito sentimentalismo. Até audiência em processo
judicial virou Gre-Nal. De um lado os fanáticos pelo juiz, os que odeiam o réu
e a “mídia engajada”, de outro, a torcida fanática pelo réu com suas bandeiras,
seu esforço e sua paixão. Na rede
social, guerra e guerra. Os princípios gerais do direito estão na arquibancada:
Juízes, promotores, procuradores usam camisetas, calções e chuteiras. Quem
apita?
Durante
alguns anos convivi profissionalmente com o futebol profissional e a política.
Era um esforçado repórter num jornal da Capital. Meu editor era sincero. Dizia
que torcedor de futebol era desprezível, especialmente porque seu barulho, seus
protestos e seus pensamentos significavam absolutamente nada no contexto
esportivo. Cabia, segundo ele, ao torcedor pagar conta: ou seja, sentar na
cadeira e torcer, falar mal do juiz, do treinador e do dirigente, soltar
foguetes quando o time fosse campeão. E pronto. Tinha feito seu papel.
Mesmo
que hoje o panorama seja um pouquinho diferente, eis que o sócio-torcedor
financia ações do clube; em muitos aspectos, ainda permanece aquela velha
lógica. O ruidoso torcedor se manifesta tão somente pela paixão. A força de seu
grito corresponde ao tamanho de seu amor pelo clube. Se for campeão ou não, o
torcedor vai morrer abraço com seu time, mesmo que depois do jogo tenha jurado
nunca mais assistir a um jogo de futebol.
A
paixão clubística migrou para a política. Diferentemente do futebol, no
entanto, o torcedor político é comedido quando seu time faz fiasco. Seu esporte
é achacar o adversário. De referência, eliminá-lo do mapa: nem que depois suas
bandeiras e suas panelas descansem num silêncio constrangedor.
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