“Eu tenho medo e já aconteceu/
Eu
tenho medo e inda está por vir/ Morre o meu medo e isto não é segredo/
Eu mando
buscar outro lá no Piauí”*
Um
dia alguém disse que tudo isso que nos rodeia nem é real. É uma ilusão. A
verdade estaria bem longe do aparente. E só a percebe quem se desprende deste
cenário. Confesso que, por mais que tentasse, a mim sempre pareceu mais uma
destas tantas teses loucas que saltam de livros escritos ou ditados por
místicos, por gurus ou por seres que nem corpo físico possuem.
Senti certo alívio ao ver que a dificuldade
não era só minha. É mesmo muito difícil crer e até mesmo admitir que o que os
olhos enxergam não existe. Mas, o tempo passa e cada vez mais começo a admitir
que os nossos olhos nos enganam. E o Brasil está aí, nem tão firme nem tão
forte, para ajudar nesta intrincada questão.
Na semana passada houve uma greve
geral. A população, que troca seu suor pela manutenção do prato em cima da
mesa, que mal paga a conta da água, da luz e
do celular, não estava na manifestação. E não há mal nisso. Os pequenos
empresários, que têm funcionários para pagar no final do mês, que repassam ao
governo boa parte do produto de suas vendas em forma de taxas e impostos,
também não estavam. E não há nenhum mal nisso.
Considero que o momento atual é
riquíssimo. E, às vezes, até hilário. Há quem tenha gastado tempo gravando
vídeo em rede social levando ao mundo sua abalizada opinião: “o Brasil precisa
de trabalho”. Outros gênios tinham a receita certa: a manifestação teria que
ser feita no feriado. Assim, ninguém seria “prejudicado”.
Ora, a greve não é uma festa que
se faz no feriado. Uma manifestação para que traga algum efeito tem que
impactar. Se os professores paralisarem suas atividades da meia-noite até às 07h30min
e, na hora certa, quando a sineta chamar, estiverem disponíveis para dar aulas,
é certo que ninguém vai lembrar-se dos seus minguados salários e do desrespeito
que os governantes têm pela educação.
Tenho certeza de que vivemos
realidades paralelas. O trabalhador que só sabe trabalhar, que não tem tempo e
nem voz para gritar sua indignação, vive
a sua. O empresário que só vê lucros vive a sua. O Lulista que só vê o Lula
vive a sua. O fanático pelo Bolsonaro vive seu louco sonho. O sonho de um é o
pesadelo de outro.
O indivíduo que só vê a Globo não
vê manifestação democrática nem luta pelos direitos. Só vê baderna e
destruição. E sente medo. Não sente medo do Temer e das quadrilhas que atuam em
todos os poderes da nação. Mas, tem medo
de que algo mude. Tem medo de que o desconhecido chegue.
Belchior tinha medo. E Edna, sua
mulher, mais ainda. Fugiam da fama, fugiam do povo, da mídia. Viviam
exilados. Perambulando sem destino. Belchior
morreu. Já havia morrido outras vezes. Agora morreu de vez: deu no Jornal
Nacional.
* Pequeno mapa do mundo -
Belchior
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