25/05/2014

A pequena aldeia

Quem poderia afirmar no passado que o nosso grande mundo viraria uma pequena aldeia? 
Até o final do século passado, o tempo transitava calmamente, cerimonioso, cumprindo seu ritual sem pressa.  Morosamente ia engolindo os segundos e os minutos como quem degusta o doce preparado pela mamãe, após um almoço familiar de domingo. 
O panorama mudou drasticamente. Nos dias atuais, tudo é tão rápido e tão rasteiro. Parece até que os relógios foram contaminados pela pressa dos fast-foods. Ao invés de saborear, o tempo vai consumindo sem medo de indigestão os dias, as semanas e os meses. 
Contribuiu para esta mudança significativa o aperfeiçoamento das comunicações e uma melhoria extraordinária nos meios de transporte, que ficaram mais rápidos e mais baratos, reduzindo as distâncias e possibilitando que mais pessoas cruzassem as fronteiras. Viajar deixou de ser um privilégio. Virou um costume.
Nas comunicações, então, o fenômeno é sentido com mais precisão. A internet massificou a informação. Coisas importantes, relevantes e insignificantes são atualizadas a cada segundo. Não há tempo a perder. Tudo urge. É necessária a atualização permanente. Se não há tanta noticia, não importa. Sempre aparecerá algo novo. Na carência de coisas verdadeiras, muitos sites inventam. E inventarão muito mais quando o período for eleitoral. É a regra do jogo. Produzir conteúdo. Mesmo que falso. Criar notícias fictícias com  aparência de verdade para confundir, virou uma estratégia política. Depois é só dizer que é humor.
Assim surgiram notícias da aprovação de uma bolsa-prostituição. Cada garota de programa receberia dois mil reais por mês para aperfeiçoar sua performance e garantir uma renda mínima. Coisas da Dilma. Pau na Dilma. Vergonha nacional e coisa e tal. E assim segue o barulho. 
Os incautos, os despreparados, os mal-intencionados, os ignorantes de toda ordem estão aí mesmo, à disposição compartilhando todas as novidades. Se a fonte é crível ou não, pouco importa. O que vale é a crítica. É meter a boca no trombone. Ou melhor, o que importa é contar com um teclado pequeno ou grande para digitar nervosamente uma sábia sentença. O que importa é comentar, mesmo que este comentário seja um mero “indignado”. 
Com todo este barulho, um fato corriqueiro pode se transformar em notícia em questão de minutos. Se o acontecimento tiver algo de inusitado, aí sim se espalha com uma facilidade extrema. Óbvio que, como ocorre em todos os setores, esta facilidade apresenta seu lado positivo e também o negativo. Nos dias de hoje nem tudo que é notícia é relevante. Nem tudo o que a mídia divulga vai contribuir para alguma coisa. Com toda esta sede por novidades, uma intervenção cirúrgica de uma pretensa celebridade vira capa. Como diz um amigo meu: aí eu pergunto, qual a relevância do novo formado dos seios, da boca ou da bunda de alguém que é famoso por alguns segundos?
Porém, nem tudo está perdido. Restam algumas boas reservas de informação segura. Não me arrisco a indicar esta ou aquela. Isto é algo pessoal e intransferível que tem muito mais a ver com a formação intelectual e com a preferência do indivíduo. Pesquisar é preciso. Compartilhar coisas só para encher a rede de conteúdo é um desperdício. 
Melhor pouco conteúdo e de qualidade do que muita coisa sem consistência.  

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