Inês não
desejava um reino. Não queria ser uma rainha. Vivia na corte, é
verdade. Era dama de companhia da D. Constança, uma princesa doente.
Inês era jovem e bela, era loira e tinha os olhos verdes. Nas suas
veias corriam sangue nobre galego. Porém, por ser filha ilegítima,
era tida como uma plebeia qualquer. A morte de D. Constança mudará
sua vida. Inês sairá de sua posição de subalterna e conquistará
o amor de sua vida, nada menos que o príncipe galanteador Pedro.
Viúvo não resistirá aos encantos da menina. E vai amá-la com toda
a sua dedicação como jamais amara alguém. E seu romance entrará
para a história da Corte. Enquanto ama sua pequena Inês, não
desconfia o Príncipe que seu amor um dia servirá de inspiração
para versos que surgirão da pena de Camões.
Inês
viveu perigosamente. Encantou Pedro, ganhou seu coração, sua
confiança e cumplicidade. Porém, nos bastidores palacianos a
palavra amor não transita com fluência. Os tempos são de guerra. E
na guerra os olhos devem estar atentos porque os inimigos estão por
todos os lados. E as ameaças crescem. Aos homens da corte o
interesse do império vem em primeiro lugar. E assim suas intrincadas
conexões levam sempre em conta a necessidade de juntar as fortunas
dos nobres, ampliando o poder e a força, além da luta desesperada
em garantir a sucessão do trono. Em tempos de guerra como aqueles, e
mesmo nos dias de paz, o coração pouco conta. Os nobres têm a
coroa e não podem dividí-la.
Pedro e
Inês, mesmo cientes de que corriam perigo, pensavam em manter o
romance distante dos olhos do rei e de seus asceclas. Porém, um amor
tão quente, tão transbordante não se contém. Um amor assim tão
envolvente não é coisa para ficar em segredo. E o Príncipe
confidenciou que desejava casar com sua amada Inês. E todo o povo
soube disso. Pedro errou. E no Palácio Real os erros não são
perdoados.
O Rei
não aprovava o romance. Anda mais que Pedro mantinha relações
estreitas com os cunhados Castro, que tinham certa influência entre
os castelhanos, que viviam às ronhas com os portugueses. D. Afonso
IV bem que tentou separar os amantes. Mandou Inês para longe, na
fronteira com a Espanha. Mas, o Príncipe embevecido a seguia. O
exílio mostrou-se medida ineficaz. Pedro, contrariando seu pai, a
trouxe para Coimbra. Foi alojada no Mosteiro de Santa Clara, em
Coimbra. E o amante, com a cumplicidade de tantos outros, a
assediava. Mandava cartas de amor onde jurava amor eterno. E, vez por
outra, furtivamente, se amavam perdidamente enquanto dedicadas
clarissas erguiam seus olhos aos céus.
Nas
cabeças dos membros da corte portuguesa o reino corria perigo. E o
perigo deve ser eliminado. E o perigo se chama Inês de Castro que
enfeitiçou o Príncipe. Não importa que seja uma mulher frágil,
mãe de quatro filhos. Não importa que exista amor. Importa que o
reino corre perigo. Que uma mulher conquistou o Príncipe Pedro e que
logo logo conquistará o trono. E depois dela seus filhos ilegítimos
serão príncipes herdeiros. E o reino lusitano voltará para os
castelhanos.
Os
conselheiros do Rei fizeram plantão. E foram tão envolventes e
foram tão convincentes que D. Afonso IV consentiu que Inês devesse
ser morta. E que seus herdeiros, crianças ainda, também deveriam
desaparecer. E tudo foi feito para o bem do reino.
O
imperador português aguardou que seu filho saísse para mais uma das
tantas caçadas. Enquanto abatia animais bravios pelas terras da
África, D. Afonso IV foi a Coimbra ter com Inês. E ela foi
inquirida pelo rei, na Quinta das Lágrimas. Inês não se calou.
Sabendo que não teria futuro, abriu seu peito e rogou pela vida de
seus filhos. E talvez tenha dito mesmo que não poderia ser punida
por amar Pedro. E o rei quase sucumbiu. Mas os algozes não deram
tempo. E um deles cortou o pescoço de Inês que caiu sangrando. E
seu sangue se esvaiu e se misturou às águas do Rio Mondego.
Pedro
se tornou um tirano. Juntou homens, cavalos e armas e desafiou seu
pai. Chegou a cercar palácios, a matar homens a esmo. Seus olhos e
seu coração não se acalmavam. Nem o sangue de uma guerra seria
suficiente para terminar com seu ódio. Porém, as doces palavras de
sua mãe, a Rainha Beatriz, demoveram o pai e o filho que assinaram
um acordo de paz.
Mas a
vontade de vingar a morte de sua amada não passava. Dois anos
depois, com a morte de D. Afonso, Pedro é coroado Rei de Portugal. E
fez justiça. Como tinha casado em segredo com Inês a tornou rainha.
E o súditos a adoraram como jamais a adoraram em vida. E seu
sepultado corpo foi homenageado. E seu amor por Pedro reconhecido.
Mas Pedro ainda não tinha paz. Era preciso homenagear Inês, a
Rainha Morta, com mais presteza. E assim fez. Com boas relações com
os castelhanos, pediu a extradição de dois deles. E fez questão de
assistir às execuções de Pedro Coelho e
Álvaro Gonçalves que tiveram seus corações retirados enquanto
ainda agonizavam. O terceiro algoz de Inês, Diogo
Lopes Pacheco, se escondeu na França. De lá, quando seu
corpo fenecia mandou um pedido de perdão ao Rei Pedro. Passados
tantos anos, Pedro o perdoou.
Hoje,
mais de sete séculos depois, diz-se em Portugal que o sangue de Inês
ainda corre rio afora. Os lusitanos, tal como Camões, ainda
suspiram por Inês, a bela Inês, de cabelos loiros e olhos verdes.
Inês, a Rainha Morta, vive nos sonhos de velhos e de jovens. Inês
de Castro, a rainha que amava Pedro.
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