A vida ideal é aquela das redes
sociais. Sorrisos, festas, viagens, jantares com amigos e algum espumante para
relaxar porque ninguém é de ferro. O
amor está no ar. É proibido deprimir. A palavra de ordem é felicidade. A imagem
diz tudo: “todo o mundo está feliz aqui na Terra”. Sem frustrações. Sem
desânimos.
A
imagem de felicidade difundida com exaustão nos meios virtuais passa muito
longe da realidade vivida por quase a totalidade das pessoas. Segundo algumas
pesquisas, esta falsa imagem retroalimenta a frustração dos inveterados
navegadores. A inveja boa é ficção. Inveja é inveja e pronto. Inveja é inveja sempre. E o quê resta para quem está
dando duro nestes frios e chuvosos enquanto algum amigo está se
refestelando nas zonas mais quentes do
planeta? Dou-he uma, dou-lhe dia, dou-lhe três...
Alguns
estudos sérios sobre o comportamento
humano apontam que esta competição para ver quem é mais feliz nas redes sociais
é algo extremamente pernicioso. O primeiro sentimento que surge é o da inveja.
E os amigos do amigo vão alimentando esta bolha de sentimento negativo mesmo
que curtam a selfie e façam comentários fofos. Hipocrisia já nasce com o
indivíduo. Não há na farmácia.
Por
falar em farmácia: dia desses uma matéria jornalística, de autoria de Cleidi
Pereira, dizia que há quatro vezes mais estabelecimentos deste tipo em Porto
Alegre do que o recomendável. Há uma verdadeira overdose, diz o jornal,
concluindo que há mais farmácias do que cafeterias nos grandes centros.
Os
farmacêuticos dizem que é sinal de que a classe média está se preocupando mais
com a saúde e que tem acesso facilitado aos diagnósticos. Porém, há aqueles que apontam o total
descontrole envolvendo uma engrenagem complexa de médicos, laboratórios e
pacientes. O psiquiatra norte-americano Allen Frances, autor do livro Voltando ao Normal, aponta que crianças
e adultos tomam mais remédios por conta do crescente aumento do interesse
comercial pelos laboratórios.
Ora,
remédios podem auxiliar na cura. Mas, são também venenos. E o limite não deve
ser fixado com os olhos no lucro do laboratório, mas na saúde do paciente. Para a
escritora Márcia Kedouk, autora do livro Tarja Preta "muitos dos
nossos males não são tratáveis com comprimidos e a medicalização cria uma
ditadura da felicidade. Todo mundo precisa estar sempre bem e feliz. Acontece
que sentimos dor e tristeza, ansiedade, medo e desânimo. Faz parte da natureza
humana e nem sempre requer um remédio”.
A
felicidade não está dentro de uma drágea nem numa postagem nas redes sociais.
Fosse assim seria fácil demais. Sem suor nem inspiração. Pílulas de felicidade
ainda não existem à venda. Nem nas melhores casas do ramo.
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