Uma das faces mais sedutoras dos dias de hoje é proporcionar espaço para todos. Todo o mundo encontra algum lugar para expressar sua voz. Num passado não muito distante, os espaços eram limitados. Lançar um livro era coisa do outro mundo. Ver impressa a opinião em um jornal era mais que um parto. Coisa para poucos. Para gente importante.
Com o advento das redes sociais todos têm vez e voz. Com isso, os meios tradicionais de difusão da informação foram perdendo espaço. Os jornais estão minguando. As redações apresentam vagas, muitas vagas que não serão preenchidas. A voz oficial da verdade, que ontem pertencia à grande mídia, não ecoa forte e retumbante. A informação não é mais singular. Surge a pluralidade. Ninguém precisa esperar que Willian Bonner diga o que é certo ou o que é errado. Sua notícia é mais uma entre tantas. É uma versão. A versão dele ou do patrão dele. Todos informam. Todos opinam.
Mas, nem tudo são flores, é claro. Apesar da ampla oferta de versões, de interpretações e de possibilidades, entre os seres ditos normais é bem possível que mais cresçam as dúvidas do que as certezas. Talvez houvesse a expectativa de que a diversidade facilitaria o caminho da busca de verdades. Com tanta gente opinando, com tanta gente comentando, talvez tenha ficado até mais difícil destacar entre tantas vozes aquelas capazes de conduzir a algum porto seguro. Desconfio até que, nestes tempos de alarido, não existam portos seguros. Os tempos são de insegurança. Os terrenos são movediços. As verdades não estão explícitas. As vozes que gritam e se impõem com suas teses das mais diversas apresentam meias verdades. E se não são verdades completas bem que podem ser mentiras inteiras.
Há teses incendiárias que defendem que cada cidadão de bem tem que possuir seu próprio arsenal. No país das liberdades individuais, os EUA, a cada tresloucado massacre cresce a defesa pela limitação de armas. Por aqui, os direitos humanos, tese necessária para preservar a espécie diante de governos arbitrários e do estado insano, vira desculpa para a morte do cidadão de bem. Vez por outra vejo manifestações acaloradas defendendo que o estatuto que regra as políticas públicas da criança e do adolescente é o grande culpado pela existência de menores infratores.
Ouvimos todos, com respeito. Afinal, democracia é isso. Porém, gritar não resolve o problema. Xingar também não. Opiniões apaixonadas sobre assuntos que pouco conhecemos são meras opiniões. E opinião cada uma tem a sua. Basta postar na rede social e aguardar o barulho.
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