08/09/2010

O choro


Homem não chora, dizia nossa mãe. No alto dos nossos cinco, seis, dez anos, não entendíamos o significado disso. Por certo, boa parte dos homens que aí estão afogou a dor, matou-a no peito, segurou a lágrima para não contrariar a sabedoria materna.  E, quem sabe, se comportam assim até hoje.
Raimundo Fagner, compositor cearense, com sua voz estridente, diz exatamente o contrário quando analisa o homem diante de uma das situações mais aflitivas pela qual eventualmente pode passar: o desemprego. Na canção Guerreiro Menino defende que  “um homem também chora, menina, morena, também deseja colo, palavras amenas, precisa de carinho, precisa de ternura, precisa de um abraço da própria candura”.
O choro é a manifestação mais infantil do homem. Ele reduz o homem feito, a mulher dona de si, àquela criança assustada diante do medo e da dor. Talvez por isso, especialmente os homens, tenham dificuldade em extravasar seus sentimentos e contenham a lágrima diante do sofrimento. Admitiria aí sua fraqueza. E fraco ninguém quer ser.

Se é contido no dia a dia, nas situações comuns da vida, o choro é livre no mundo do espetáculo. Entre as estrelas, no esporte, nas grandes conquistas e nas fragorosas derrotas, diante das câmeras, o choro faz parte do script. É de bom tom até que algumas lágrimas desçam furtivas ou até mesmo em cascata pela face alegre do vitorioso ou sofrida do perdedor. Se o ângulo da câmera for bom vira até vinheta na programação diária.
O choro do povo chileno, diante do soterramento de 33 mineiros, tem sido comovente. Familiares em vigília, apreensão, sofrimento. Um alívio a informação de que estão bem. Privados da liberdade de agir, aprisionados em um compartimento úmido. Extenuados. Mas, vivos. 
Quanta paciência, quanta tolerância, quanta resistência terão que demonstrar ao longo desta cansativa e arriscada operação de resgate. Anuncia-se que serão quase quatro meses de trabalho. Aqui, no conforto de minha casa, só de pensar em passar tão longo tempo aguardando o resgate já me desperta um sentimento de apreensão. Imaginem lá, nas entranhas da terra, o que vivem estes homens.  As imagens públicas, liberadas para reduzir o sofrimento por aqui, ao menos são confortadoras. 
Trânsito 
Por aqui, mais uma vez, dor e sofrimento. Nossa cidade foi acometida pela informação de mais uma morte de um jovem no trânsito, no início da manhã de sábado. Precocemente se despedem nossos jovens no momento de exercício mais pleno da vivência, a juventude.  Triste, mas real. Resta pouco a dizer, somente lamentar!      

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