11/09/2010

O gosto pela polêmica

Em qualquer grupamento humano sempre tem alguém que é caracterizado como “O Polêmico”.  Às vezes, quando tudo parece estar certinho, combinado, resolvido, sem grande contrariedade, aparece O Polêmico. Quem é este personagem, tão conhecido de todos nós e, ao mesmo tempo, tão desconhecido, carente de estudos, de teses e, também, de compreensão. 
Sabemos muito bem o que é uma polêmica. É uma situação de contrariedade, de controvérsia, uma disputa acalorada, mas sempre num tom cordato, não violento. O Polêmico, por sua vez, é um ser que busca a defesa intransigente de suas posições, mesmo quando está em aparente desvantagem. Tem uma característica toda peculiar: não escolhe campo de batalha. Basta que surja a oportunidade e lá está O Polêmico, dando o ar da sua presença. Às vezes O Polêmico consegue engrossar seu time, cooptando os menos convictos.
 
É função institucional do Polêmico disseminar a dúvida. Mostrar que aquilo que é aceito como verdade, na realidade apresenta outro aspecto que, no momento, só ele consegue ver. A nossa história está cheia de personagens polêmicos. Sócrates é um deles. Enquanto se esperava que ele respondesse as questões existenciais com assertivas ele dirigia a seus convivas não respostas prontas, acabadas, mas sim devolvia novas perguntas. Pode-se considerar que Cristo também era um polêmico. Enquanto o povo se preocupava com questões políticas de pagamento de impostos escorchantes, Jesus dizia “dai a César o que é de César”. Sócrates e Cristo, cada um a seu tempo, devem ter frustrado muitos com suas surpreendentes manifestações.
O certo é que o verdadeiro polêmico faz um bem enorme para o meio em que vive. É ele quem suscita possibilidades novas dentro de determinada questão tida, até então, como algo já consumado. É ele quem, na sua contrariedade, na sua insistência pela busca da verdade revela algo até então desconhecido.
Mas, atenção, nem todos aqueles que se dizem polêmicos são verdadeiramente um polêmico autêntico. Pelo contrário. O polemista verdadeiro jamais inicia uma frase afirmando “dizem que eu sou polêmico”. Na verdade, O Polêmico, com letra maiúscula, não gosta de ser polêmico. Ele, nutrido de um sentimento verdadeiro de contribuir decisivamente para que os seus pares não sejam mantidos no erro, somente intervém numa questão quando pode contribuir decisivamente para clarear algo obscuro.
O polemista verdadeiro justifica sua origem grega, polemiké, ou seja, guerreiro. E um guerreiro não ataca por atacar, não entra em uma contenda se não detiver uma boa estratégia, um objetivo traçado cuidadosamente, contando como suas únicas armas os seus argumentos. Aqueles que discutem por discutir, que dão opinião por dar, que intervém inescrupulosamente como forma de contrariar, sem o sentido de dar a luz, não podem ser chamados de polêmicos. São, na verdade, curiosos que, infantilmente, jogam alguma lenha para que dali, inesperadamente surja algum incêndio. O falso polêmico joga a lenha, mesmo quando não há nenhuma labareda. Ou, ainda, joga lenha muito verde gerando somente fumaça.
Alguns podem considerar estes escritos como uma polêmica. Nunca foi esta a minha intenção. Mesmo porque as polêmicas só são estabelecidas quando há posições divergentes e, neste caso, sendo esta coluna uma obra individual, com a interatividade ocorrendo somente quando ela estiver pronta, acabada e lida, nada restará de polêmica. Ou estou enganado?

2 comentários:

  1. Muito bom, Solano! Excelente abordagem e a conceituação exata do que é realmente uma polêmica diferenciando da intervenção vazia e desagregadora, e o pior, sem qualquer fundamento, apenas a vontade de contrariar. Grande abraço!

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  2. nossa descobri que só polêmica com este texto,
    uau.... mais o polêmico não se assume...hummm,
    então o que sou, vou ler a próxima e descobri.
    bjs.

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