Tive professores que adoravam ditar a matéria. Havia um que gastava um período inteiro lendo frases enormes. Dava ênfase especial às vírgulas e aos pontos. Cada vez que soltava um “novo parágrafo” semeava na turma um sentimento de desânimo. Saboreava cada frase dos seus textos infindáveis. Não dava espaço para lamentações. Quando o pessoal começava a se dispersar, aumentava o ritmo da leitura até que as meninas da frente, as melhores alunas da turma, solenemente murmurassem quase como um choro, que não estavam conseguindo acompanhar o ritmo.
Após um sorriso maroto, entrava em silêncio até que todos se recompusessem. Quando a turma relaxava, desandava novamente na ladainha. Apesar da determinação do professor, de minha turma não saiu nenhum médico. O máximo que conseguimos foi mestrado em garranchos. Fosse hoje e teríamos sérios motivos para uma ação judicial onde cobraríamos com juros e correção os danos morais causados pelo cansativo método pedagógico.
É verdade que este professor, odiado durante o transe do ditado, desenvolveu uma técnica de reconciliação, devolvendo aos pequenos um pouco de satisfação. Após o cansaço que a transcrição impunha a todos, era a hora do descanso. Quando o texto chegava ao final, com voz forte e inconfundível, decretava após a última frase do fatídico texto: -Ponto Final!
O que se via eram caras alegres, satisfeitas. Largávamos os lápis e as canetas, balançávamos o cansado braço. Afastávamos os cadernos para o lado. Era o momento relax do dia. Depois era a hora de dirimir dúvidas, corrigir uma que outra palavra e a aula seguia sem sobressaltos.
De vez em quando me lembro da alegria que o ponto final nos proporcionava. Quando o programa de tevê é chato, quando a música não agrada, quando a situação é constrangedora, a alegria está nos créditos finais, no acorde derradeiro ou no ponto final. De algum modo, o final de ano é o fim de um texto. É um marco. Não é definitivo porque novos capítulos serão construídos lá na frente. Porém, agora, neste exato momento é hora de olhar tudo o que foi escrito. Revisar o texto. Encontrar os erros. Descansar um pouco porque daqui a pouco tudo recomeça.
Porém, se o seu ano foi cheio de lamentações, se não deixou motivos para festa, para celebrações, se o caminho foi espinhoso e cansativo, imponha um ponto final. Vale até imitar o meu professor e, de frente para o espelho, com dedo em riste e certo sorriso no rosto, dizer em alto e bom som: -Ponto final!
A partir daí, recomece a história de outra forma, invente outros parágrafos, mude de linguagem. Use as experiências acumuladas ao longo do tempo. Mesmo as negativas têm o aspecto pedagógico. E, no mais, um bom novo ano a todos. Ponto final.