27/03/2013

Comentários infelizes

Porre de democracia. Talvez esta seja a única explicação para a avalanche de comentários após as notícias postadas nos sites. A mania é geral. Seja nacional, estadual ou regional, saiu uma notícia nova e os internautas colocam para fora todo o seu conhecimento ou toda a sua ignorância. Alguns são virulentos, desbocados, irresponsáveis e até criminosos; outros são sensatos, comedidos. Há ainda os que tentam ser espirituosos, fazendo graça na hora errada e no lugar errado. Vez por outra, alguns internautas preferem atacar os comentários dos outros com expressões duras, com agressões gratuitas.
Um jornalista esportivo divulga alguma informação supostamente negativa de um time ou avalia uma atuação de algum jogador e a turba invade a página chamando-o de tudo. Se o colorado foi o “prejudicado”, o repórter só pode ser gremista. Se, por outro lado, foi o tricolor quem sofreu o “ataque” logo ele é “colorado doente”. Sem contar que a turma do centro do país também inunda o campinho virtual lançando suas farpas e ódio a serviço do “curíntia”, do “framengo”, do “fluzão”, do “peixe” ou do “parmera”. O jogo fica pesado. Do pescoço para baixo tudo é canela.

21/03/2013

Um banquete para os deuses


 Il festino degli dei, de Giovanni Bellini
National Gallery of Art, Washington, D.C.
Dizem os estudiosos que de todos os instintos primitivos, foi o medo o que contribuiu de maneira mais decisiva para que a espécie humana sobrevivesse entre as feras dos primeiros tempos. Pequeno em tamanho e inteligência, o homem precisou se esconder para não virar o lanchinho  do dia. A temperatura também não ajudava. Frios e calores extremos fizeram do homem um ser nômade, sempre na busca de uma condição melhor. 
Mesmo depois de superadas as feras, o homem convivia com o medo. O desconhecido,  a ignorância, o atraso intelectual foram os propulsores dos medos  das eras seguintes. O temor já não era de virar comida, mas sim da ira dos deuses. Fortes e geniosos, os primeiros deuses tinham vocação para a vingança, para a destruição daqueles que não faziam tudo exatamente como deviam. Havia medo em todos os lugares. Afinal, diferentemente das feras que contavam somente com dois olhos, os deuses tudo viam, tudo sentiam, tudo sabiam. Mesmo o mais fugidio pensamento podia ser captado pelas antenas sempre atentas das divindades.
Num cenário como esse, valia de tudo para agradar estes deuses. Comidas das mais diversas, doces dos mais saborosos e bebidas das mais inebriantes foram as armas encontradas para reduzir um pouco aquela cobrança impecável. A impressão é de que enquanto os deuses consumiam os banquetes ofertados pela sua pobre gente, lambendo os dedos sem muita finesse, o mundo estava em paz. Haja comida! Carnes assadas, frutas, ambrosias amarelinhas e sem fim. Cerveja hoje, vinho amanhã. Música e dança. Tudo junto e misturado, de preferência com um leve sorriso no rosto, e jamais com cara de temor porque o medo se guarda lá dentro.

13/03/2013

A trilha sonora


Qual será nossa trilha no futuro?  Falará de coisas estranhas, de situações mal resolvidas, de glórias, de lutas, de anseios?

Dia desses vinha de carro em direção a minha casa. Como o papo do futebol estava chato, mudei de estação e a rádio tocava uma canção antiga do Paulinho Nogueira, “Menina, que um dia conheci criança, me aparece assim de repente, linda virou mulher”. Na hora lembrei-me de tantos cantores e compositores que fazem parte do nosso dia a dia. Responsáveis que são pela nossa trilha sonora, embalam sonhos, servem de Inspiração para tantos planos. De certo modo gozam de nossa intimidade, cantando seus versos vão afogando mágoas e desencantos, enterrando romances que não foram viabilizados.  Alguns se tornam parceiros fiéis durante um período. Depois de um tempo vão se afastam de nossas vidas. Por fim, somem, sem deixar sinal.

06/03/2013

O direito de ser estúpido


As gerações passadas tinham certa ânsia pela revolução. Impulsionadas por uma música mais libertária, como o rock dos primeiros momentos, que sacudia as mentes e os corpos, os jovens dos anos 60 e 70 pensavam em construir um mundo melhor. Claro, não eram todos. Na verdade era uma minoria barulhenta. No ar, porém, havia um clima de que as mudanças radicais um dia ocorreriam e o mundo velho se encheria de paz e de amor. Convenhamos que o mundo pensado dessa forma seria um bom lugar para se viver. As diferenças ficariam no passado. Sem divisão de raças, de credos religiosos, de cor, de forma e de condição financeira. Um mundo mais justo e bom para todos.
O rock acabou. Surgiram outros ritmos, outras motivações, outros discursos, outras decepções. A revolução como se pensava não veio. O mundo foi ficando um pouco mais medíocre, inclusive na música, que hoje anda um tanto quanto sem inspiração.