Há um enorme fosso separando este homem primitivo do contemporâneo. Nossos antepassados mais remotos viviam sob o império do instinto. O medo, arma mais do que eficaz para a preservação da espécie, ditava o comportamento naqueles tempos marcados pelo constante ataque das feras, de ameaças, de cataclismos, de transpiração e pouca inspiração.
Ao longo do tempo o que mais o homem fez foi trabalhar para superar seus medos. Os mais notáveis foram criando instrumentos de defesa, rudimentares, mas eficazes. A lança foi, talvez, a primeira arma. De forma simples, ela afasta o homem da presa, invertendo a lógica daquelas eras: o caçador muda de lado, agora é a caça.
A própria redução das distâncias, com o surgimento do transporte, primeiro a navegação depois os trens, carros e aeronaves, atestam a intenção do homem de buscar uma aproximação com os iguais. Juntos seremos mais fortes, talvez tenha pensado alguém lá num passado remotíssimo.
Nos tempos atuais a tentativa ainda é a da aproximação. As redes sociais, hoje tão corriqueiras, de alguma forma conectam todos os seres, reduzindo a zero as distâncias existentes no mundo físico. Porém, não obstante as vantagens inquestionáveis do mundo virtual, ainda aí, em casos cada vez mais comuns, graça o primitivismo que carregamos em nossas células. Nem sempre a tecnologia tem sido usada como ferramenta de difusão de ideias construtivas. Aliás, poderia dizer que raras vezes nossos amigos virtuais contribuem para que o nosso dia seja um pouco melhor. Tanto quanto ocorre com nosso ambiente natural, agredido insistentemente da forma como bem sabemos, o ambiente virtual não escapa da insânia, da irresponsabilidade deste seres plugados, conectados na grande rede.
Ao invés de glorificar as boas atitudes, de difundir bons pensamentos, o que mais se vê são o escárnio, a insistente galhofa (travestida de humor) e o lugar comum (que não leva a lugar nenhum). O excesso de conteúdo proporciona uma leveza, uma falta de compromisso com a qualidade nas postagens que, às vezes, até assusta. Poluem um ambiente que poderia ser gostoso, agradável e construtivo. Jogam lixo na web como jogam pelas janelas dos carros.
Nas redes, e também no mundo real, encontramos homens de todos os tons. Inclusive gente muito próxima dos nossos primitivos irmãos. Usam as ferramentas modernas sem a racionalidade. Estão conectados com os seus instintos. Por isso, muitas vezes agridem.
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