Está em voga a preocupação de celebridades com o tema morte. O Paulo Santana, dia desses na ZH, lembrava que a preocupação com a finitude corporal é coisa que chega junto com a maturidade. As crianças, os adolescentes e os jovens nem de longe avistam seu fim. Não precisam disso, eis que têm coisas mais importantes a fazer. As energias estão todas concentradas nas tarefas imediatas. O hoje, pelo menos neste estágio da existência, é o que basta.
Outro gaúcho, não menos ilustre e não menos competente, o laureado repórter Caco Barcelos também aborda o tema em entrevista. Está verdadeiramente incomodado com a possiblidade de que a morte seja o fim de tudo. O doutor Varela, pretenso mestre de todos os assuntos, da saúde física às mais altas discussões filosóficas, também meteu o seu bedelho. Para a alegria dos ateus, dos materialistas, agnósticos, céticos e outras tribos, decretou que a morte do corpo é o fim e ponto final. Sem apelação, sem recurso. Só faltou dizer aquele velho bordão de antigo programa de humor: “-e não me venham com chorumelas!
A maioria, é certo, não tem esta certeza que o citado doutor ostenta. A falta de uma resposta categórica da ciência causa um sentimento de desconforto. Porém, este desconforto não é novo. É mais do que secular. O tema vem sendo estudado desde os primeiros filósofos. Para Platão a passagem do estado de vida para o da morte é um processo natural tanto quanto da vigília para o sono. A alma, assim, apenas mudaria de estado, deixando o corpo físico e, depois, subsistindo no espiritual. A alma é, segundo ele, indestrutível, imortal. Aristóteles, por sua vez, entendia que a alma não resiste à finitude do material. Ela depende do corpo físico para manter-se ativa. Há inúmeras outras visões contraditórias a respeito da vida e da morte. São diferentes prismas que vão dando este ou aquele significado à existência e ao destino da criatura humana.
Aliás, vida e morte são como gêmeas siamesas. Caminham juntas desde sempre. São inseparáveis. A melhor maneira de entender a vida é, por extensão, entendendo o sentido da morte. A recíproca é verdadeira. Como ainda se cultivam dúvidas a respeito do que vem depois da morte, a vida para muitas pessoas segue como uma nau à deriva. A perda do controle, cá entre nós, é desconfortante. Para muitos é muito mais que isso, é deprimente.
Talvez este tempo de final de ciclo, quando se fala tanto em renascimento (Natal, Ano Novo) tenha permitido que o tema aparecesse com relativa repetição na nossa diligente mídia. É uma preocupação filosófica, transcendental, importante. É saudável que se gaste alguns instantes nesta interessante pauta. Uma coisa é certa, notáveis e comuns têm uma característica em comum: um dia, convictos ou não, sucumbirão.
O futuro será aquele que construímos e alimentamos ao longo da existência. E isto independe de sorte. Os imponderáveis como a sorte, o azar, o acaso, ao que consta, não dirigem o universo. Senão de nada adiantaria o talento, a inteligência e principalmente o trabalho.
Viver e morrer não se excluem nem se anulam. Há um pouco de morte no nosso dia (o próprio tempo presente que vai suplantando o passado segundo a segundo), e muita vida além da morte. Você não crê nisso? É um direito seu. Nossas vidas e nossas mortes nos pertencem. Pensemos nelas como melhor pudermos ou se quisermos.
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