21/12/2013

A Bola Pelé

Ilustração: Ana Caldatto 
A bola de futebol era o objeto de desejo dos meninos dos anos 70. Pobres, remediados e ricos. Todos almejavam uma bola. De couro, oficial nº 5, branquinha, costurada a mão. Ou de plástico. Todas elas serviam ao propósito da gurizada.  Se fosse Pelé, com a assinatura do Rei ao lado de uma imagem sua dando um soco no ar, melhor. Mas, caso não fosse do Pelé, a do Rivelino servia. 
Minha recordação mais antiga em relação à pelota está relacionada a uma tragédia. Era muito pequeno. No quintal meu pai  e tios faziam um churrasco. Os espetos eram feitos de taquara. Vez por outra o fogo rebelde subia sem controle, sapecando a carne e queimando o espeto. A taquara então era trocada por outra e seguia a festa.
Nisso surge uma bola no meio do caminho. Verdadeira festa começou para os meninos. Os pequenos chutavam a redonda entre as pernas dos adultos. Corriam desordenadamente, se jogavam no chão disputando uma partida sem regras. Chute daqui, chute dali. Eis que alguém, sem muita habilidade, desavisadamente acerta um chutão na bolinha de borracha. Ela sobe e cai dentro da churrasqueira. Bem no meio do braseiro. Meu primo Pedro ou algum outro qualquer ainda tentou de forma desesperada salvar a bolinha. A ação da brasa, porém, foi impiedosa. Vi a bola murchando. Ficou enrugada, torta, molenga, imprestável.
A festa não foi mais a mesma.

......


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