O que você gostaria de ganhar de presente neste período natalino? Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três! Não vale resposta de miss, do tipo “a paz mundial” ou “que todas as pessoas sejam felizes”. Difícil, assim, à queima roupa achar uma resposta para uma perguntinha tão fácil e tão corriqueira, não é?
Muitos, porém, hão de lembrar a tal mega da virada, que deve distribuir uma boladinha em torno de R$ 200 milhões. Um Natal atrasado, eis que quando os números forem cantados no sorteio o velho Noel já estará em seu período de descanso, tratando de suas renas, engraxando suas botas e limpando seu treinó. De qualquer modo, não se pode negar que uma graninha extra assim faria uma verdadeira revolução no modus vivendi de todos nós cidadãos trabalhadores. Mas, a quantia que parece ser exagerada para todos os simples mortais não representaria quase nada para aquele milionário, o Batista, que viu sua fortuna minguar como bolo abatumado nos últimos meses deste ano. Não há números definitivos, talvez nem aproximados, mas uma revista arrisca ao estimar suas perdas em R$ 60 bilhões em dois anos. Montanhas e montanhas de papéis sem lastro que sucumbiram a negócios fantasiosos gerando choro e ranger de dentes.
Bem mais modestas, as moças no elevador calculam seus gastos semanais. Uma blusa de R$ 200,00, uma calça de R$ 300,00, mais isso, aquilo e aquele outro e já se foram mil. E ainda é terça-feira. A outra concorda em gênero e número. Lembra que nem comprou presentes para a família. “Só ganhando na mega sena para pagar tanto carnê”, concluem a conversa.
Se alguns sonham muito, outros com pouco ou quase nada se contentam. Aqui na província, o Papai Noel não vai de treinó. O meio que usa é uma carroça. Vestido de vermelho, como manda a tradição, enfrenta o sol das três da tarde, com os termômetros marcando 28 ou 29 graus. Passa pelas ruas da periferia atrás de meninos e meninas pequenos e sonhadores. Segue seu caminho distribuindo pacotinhos de balas de goma. Talvez uma ou outra mariola, uma paçoquinha e um pouco mais. Como paga recebe sorrisos sinceros.
As crianças, com suor escorrendo pelo rosto, muitas de pés descalços, correm atrás da carroça. Os pés nem sentem o calor do asfalto. Tudo por um docinho. Todo o esforço por uma ilusão que passa tão rápido.
Sabemos que a história da distribuição de presentes neste período vem sendo fortemente inflada pela necessidade da indústria em aumentar o faturamento. Nestes dias as pessoas estão receptivas, sensíveis. Muitas delas, inflexíveis durante os onze meses passados, subitamente sentem a vontade de ajudar o próximo. Surge o sentimento de altruísmo, tão necessário e tão escasso na atualidade. Até os mais machões não se seguram e se surpreendem chorando diante da tevê quando aparece o novo comercial da Companhia Zaffari.
A lógica talvez seja: quanto mais o coração amolecer maior será o gasto em presentes. A equação é quase matemática. O comércio que o diga.
Em relação à questão apresentada lá no início sobre qual seria o melhor presente, pensando bem, até que não é um disparate responder que o melhor presente para todos nós seria “a paz mundial” ou “que todas as pessoas sejam felizes”.
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