Nas zonas de conflito enterram-se minas para atingir o inimigo. O
passo seguinte pode ser o passo final do guerreiro. Pisar numa mina
ativa é abrir caminho para o fim. É morte na certa. Quase certa: se
houver um destes milagres o corpo estará dilacerado. Nada será como
antes. O que sobrar será sempre uma parte. O todo ficou na explosão
da mina.
O processo eleitoral que está em andamento por aqui é quase como
um campo minado. Uma guerra. Cada passo pode conduzir ao fim. Os
mortos vão ficando pelo caminho. Estilhaços de minas detonadas vão
ferindo as carnes. Às vezes, o campo fede. Há sinais claros de
decomposição pelo caminho.
Haverá um dia em que isto tudo será passado. A história será
contada de um jeito ou de outro. Versões para todos os gostos, com
mais sal ou mais açúcar; conforme o gosto do freguês. Porém,
longo será o trabalho de desarmar as minas. Elas, enterradas durante
a batalha, farão muitas vítimas ainda. Mesmo depois que os
guerreiros saírem de cena por falência ou morte, sua obra-prima
será vista e lembrada por muito tempo. Gerações e gerações
contarão causos imaginários, fantasiosos ou até carregados com
alguma ponta de verdade sobre estes tempos de guerra.
Sobe e desce
Estas pesquisas eleitorais são mesmo uma graça. Enquanto
cristalizam alguns números flutuam outros. Olhando assim esses
gráficos formados por linhas coloridas que sobem lentamente ou
caminham horizontalmente sem qualquer alteração, tem-se a impressão
de que tudo está garantido. Que o ganhador já ganhou e que o
perdedor já perdeu. Nada disso: poderemos ter um ganhador ali na
frente e muitos perdedores ao longo dos tempos. Pode ser que o
ganhador festeje com seu séquito até se acabar e, logo ali na
frente veja a derrota no fim do túnel. São dois turnos. A vitória
de agora bem pode ser a derrota que vem a galope.
O cenário é bem estranho. Creio que no final de tudo não
restará grande coisa a comemorar. O cenário político brasileiro é
pródigo em histórias de vitórias que se esvaem já na comemoração:
esperanças que duraram bem menos do que se esperava como Tancredo e
Collor.
A novela da sucessão parece uma peça de ficção. O futuro
parece cabuloso. O rio parece intransponível. Só parece. Ninguém
tem certeza. Nem os números do Ibope que torcem nervosamente para
este ou aquele.
Talvez o trabalho maior de quem chegar na frente será desarmar as
minas que foram cuidadosamente enterradas nos últimos anos Brasil
afora. Muitas delas já explodiram nos corredores de hospitais sem
vaga para o SUS, na escola sem recurso, no funcionalismo sem
correção, na violência que faz vítimas inocentes, no ódio que
sangra na rua e nas redes sociais. Haverá muito o que fazer. Se o
timoneiro for um embuste, jogará para a torcida como tantos jogam
nestas propagandas eleitorais que prometem mais educação, mais
saúde e segurança.
No fim, há que restar alguma esperança. Vai que o eleito seja
tudo o que diz. Sabe-se lá o que vem por aí! Este Brasil, lindo e
trigueiro, faz graça todo o dia. Vai que se tenha motivo para rir
logo ali. Tomara!
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