19/09/2018

A Religião e a Política


O casamento entre política e religião não é coisa nova. Os povos antigos, muitas vezes, se organizavam politicamente e buscavam uma validação divina. Era necessário que o soberano tivesse a chancela da autoridade religiosa. Mal comparando, seria como se os deuses desejassem este ou aquele soberano no trono.
Na Idade Média, então, a igreja romana ditava as regras. Os conceitos de pecado foram ampliados de tal forma que qualquer oposição ao soberano era uma agressão à autoridade religiosa e ao próprio Criador. A pluralidade era uma ofensa. A crença era tutelada. Só quem seguisse o pensamento do clero tinha alguma chance de continuar vivendo.



Nos dias de hoje, apesar do amplo espectro de crenças e descrenças, o pensamento religioso influencia na vida em sociedade. Conceitos bem definidos de certo e errado, de admissível e não admissível, de permitido e de proibido à luz da religiosidade determinam padrões de comportamento. Assim, as liberdades individuais, especialmente quando relacionadas à orientação sexual, sofrem cerceamento rotundo ou silencioso. No pensamento de muitos, Deus se ofende quando o indivíduo não segue o protocolo previamente determinado.
De certo modo, nos períodos eleitorais este processo sofre um impulsionamento. Por trás disso está o discurso de defesa da família e dos bons costumes. Outra estratégia comumente usada é a frequência de candidatos nos cultos religiosos. Numa aliança com igrejas e pastores, candidatos são recebidos com glórias e aleluias num comício disfarçado de culto. Dia desses um ministro das altas cortes alertava para a necessidade de fiscalizar um pouco mais este uso da fé, do ambiente “sacro” e do poder dos pastores para conduzir as ovelhas para as garras deste ou daquele candidato.
A estratégia, por vezes, gera algumas situações surreais. Há um candidato, por sinal muito bem contado nas pesquisas, que debochadamente ensina crianças a fazer um sinal de arma com os dedos. É defensor do uso da tortura, do extermínio dos “homens que não são de bem”, debocha da opção sexual das pessoas, desvaloriza a mulher entre outras peripécias. Pois bem, dia desses, esse indivíduo, posava ao lado de pastores. Dizia que representava os homens de Deus. Credo, livrai-me do mal!
Não é necessário encostar os joelhos no chão semanalmente, nem jogar os braços para cima gritando aleluia para se saber que o grande mestre religioso do Ocidente, Jesus de Nazaré, construiu ao longo da sua pregação uma doutrina de aceitação, de compreensão, de perdão para aqueles que não seguem o caminho da perfeição. Não há no discurso de Jesus nenhuma expressão como “bandido bom é bandido morto” ou alguma recomendação para que a violência seja combatida com o uso de armas. Pelo contrário. Muito pelo contrário.
Apesar de ser um estado laico, sem uma orientação religiosa oficial, é flagrante o uso da religião no ambiente político. Na busca do poder cada um usa o que tem. E os líderes religiosos têm uma massa que os ouve com regularidade. Na hora do voto não é certo que o eleitor vai votar naquele candidato que sua igreja indicou. Ele tem liberdade. Toda a liberdade.
Mas, Deus está vendo!

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