Estamos
na década de 60. O crescimento das repúblicas socialistas do leste
europeu é uma realidade. Brigam EUA e URSS pelo poderio econômico e
tecnológico. O risco do comunismo se alastrar e tomar conta do mundo
é um fantasma que assola as cabeças, tira os sonos, fomenta
políticas de ataque e toma conta dos discursos. Apesar disso,
convive-se. Com medos de lado a lado, mas convive-se.
Restou
uma certeza: era necessário destruir o comunismo.
Como
se sabe, o tempo é relativo. Então, voltamos no tempo e já estamos
no início do século passado. A Itália, como boa parte da Europa, vivia
em petição de miséria. Eram necessárias medidas radicais para
colocar a nação nos trilhos. Benito Mussolini, político
habilidoso, cresceu como uma verdadeira esperança de redenção do
povo italiano. Foi a mente brilhante por detrás do fascismo que
tinha como principais características a valorização do masculino,
a mobilização das massas, a militarização e a defesa de símbolos
e cultos.
Não
satisfeito em conquistar a Itália, lançou-se na tentativa de
conquistar o mundo junto com os nazistas alemães. Como o fracasso da
Alemanha, resistiu
o
que pode. Mas, quando o cerco foi fechado tentou fugir para a
Suíça.
Mas, foi morto por guerrilheiros italianos que expuseram seu corpo
abatido para comprovar ao mundo que o tirano tinha sido dominado.
Mais
um salto e nos encontramos em 1948. Na Convenção Interamericana Sobre a Concessão dos Direitos Civis à Mulher ocorre
a outorga às mulheres
dos
mesmos direitos
civis
de que dispõem os homens. Pela lei, mulheres e homens são iguais em
direitos.
Deixando
a era moderna de lado, vamos dar um salto bem grande. Vamos para 500
anos antes da Era Cristã. Escravizar era um direito. Uma ação de
guerra. Os escravos eram objetos dos vencedores. Eis que Ciro, rei da
Pérsia, declarou a liberdade dos escravos e concedeu os primeiros
direitos humanos. Depois disso, várias convenções e acordos foram
assinados com o objetivo de garantir aos humanos tratamento humano,
por mais redundante
que
possa parecer.
O
tempo passou. As coisas foram mudando em todo
o
mundo. Chegamos num tempo em
que
o mundo está pequeno. Há franco domínio da informação,
facilidade de comunicação e a tecnologia
de
ponta. Há situações consolidadas em todo o mundo: prevalência de
democracia (ao menos nas nações mais civilizadas), respeito às
conquistas histórias que valorizam a individualidade etc
e
tal.
Mas,
com tudo isso, toda esta pauta absolutamente ultrapassada vem à tona
neste momento eleitoral brasileiro. E há amigos virtuais e mesmo
presenciais que destilam raiva e ódio defendendo o indefensável nas
redes sociais. E carregam
em
suas cabeças o sentimento de que estão fazendo o bem. Que estão
trabalhando
pela preservação da saúde coletiva e da estabilidade dos bons
valores morais.
O
panorama me faz lembrar de O Ensaio sobre a Cegueira, de José
Saramago. É sofrível
a
cegueira que toma a conta do povo e vai gerando pequenas guerras até
chegar ao caos total. É uma aflição atrás da outra. Ninguém é
francamente lúcido. O autor, que depois ganharia o Prêmio Nobel,
declarou
que
foi doloroso escrever a obra e que gostaria
que
fosse dolorosa a leitura. Conseguiu. “Através da escrita, tentei
dizer que não somos bons e que é necessário termos coragem para o
reconhecer", disse Saramago no lançamento da obra.
Pior
do que ler é viver este estado de cegueira que assola boa parte da
nação. O pior é que os cegos juram que enxergam e agem como se
assim fosse.
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