Esta não é a primeira eleição brasileira onde o boato vale mais
do que o fato. Quem participa do processo há um pouco mais de tempo
deve lembrar dos boatos que favoreceram Fernando Collor de Mello, em
1989, levando-o à presidência da República num dos episódios mais
traumáticos da vida política nacional. Dizia-se na época que Lula
confiscaria a garagem de todos aqueles que tinham carro para jogar
dentro uma família de sem-teto. As casas na praia também seriam
confiscadas e entregues aos necessitados. A Globo editou o debate no
Jornal Nacional e, entre outras baixarias, a campanha de Collor
encontrou uma namorada do líder oposicionista, Míriam Cordeiro, que
afirmou que Lula teria pedido para que fizesse um aborto. Anos mais
tarde, Collor disse que se arrependia de ter abordado o caso na sua
propaganda.
O clima de ódio fez de Collor, o Caçador de Marajás, presidente do
país. Pouco tempo depois, o orgulho deu lugar à vergonha. Os
colloridos foram despejados do poder, gerando um sentimento de
vergonha nacional.
Nos dias de hoje, os boatos são virtuais. E têm até nome próprio:
Fake news ou notícia falsa. O meio é o WhatsApp. Através do
aplicativo, disseminam-se informações grotescas, ideias
ultrapassadas e ameaças de toda a ordem. A falta de senso crítico e
de juízo polui os grupos familiares gerando um verdadeiro caos. Pais
contra filhos, irmãos contra irmãos.
Engana-se, porém, quem joga uma moeda apostando que o fim dos tempos
chegou. Apesar do que apontam as pesquisas falsas que circulam nos
grupos de família, é quase certo que o embate segue para um segundo
turno. Ou seja: nova oportunidade para o recrudescimento dos embates
entre os prós e os contras. Com isso, cresce a tensão, o stress, o
medo e o desespero de quem tem certeza, mas, no fundo, desconfia.
Alguns estudiosos acreditam que o embate eleitoral polarizado é
potencializado pelo medo. Como são dois grupos distintos elege-se
uma divindade e um demônio. Os de lá acreditam que estão do lado
certo. Os do outro também. Já o demônio está lá e não aqui. E
isso mexe com os nervos. A incerteza dá medo. Assusta. Os candidatos
viraram arautos do bem ou do mal, depende do lado que o eleitor está.
O pleito virou religião. Religião dogmática a tolerância não tem
espaço.
O mundo vai acabar se o outro ganhar. A vida não será fácil se
esta turma chegar lá. Tudo isso gera medo, desconforto. Ter medo é
normal. Todo o mundo tem. Pelo que consta a palavra medo provém do
termo latim metus. É uma perturbação angustiosa
perante um risco ou uma ameaça real ou imaginária. O conceito
também se refere ao receio ou à apreensão que alguém tem de que
venha a acontecer algo contrário àquilo que pretende.
O medo abafa o sentimento de esperança. Ele aumenta o tamanho da
ameaça. O perigo está sempre vivo. Está ali na frente. Ás
vezes, o medo está na urna. A ameaça está ali numa caixinha e se
mostra numa foto digital. Mas, pode naquele mesmo local encontrar-se
a esperança. É só confirmar.
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