23/10/2018

Divinos Candidatos

Deus Criando o Sol e a Lua- Michelangelo







O sentimento religioso é aquela sensação intrínseca, imanifestada, primitiva, que nasceu no instinto e se perpetuou, chegando até o homem intelectualizado. É a impressão da existência de um ser superior. Afirmam os estudiosos do campo da antropologia espiritual que este sentimento, atualmente racionalizado, nasceu com o próprio ser humano.
As primeiras manifestações humanas em relação ao supremo foram ainda na fase pré-civilização. O primitivo encontrava-se no subsolo do conhecimento. Projetava nas coisas o seu sentimento dando vida ao inanimado. As experiências do momento são representadas no material. Para alguns, a pedra foi o primeiro objeto de adoração, naquilo que se chama de litolatria ou adoração de pedras, rochas e relevos do solo. Depois a fitolatria, adoração dos vegetais, plantas, flores, árvores e bosques; seguindo-se da zoolatria, adoração dos animais e, posteriormente, a mitologia, que é uma explicação rudimentar do funcionamento do universo, através do componente mágico.

Os períodos foram sucessivos, mas não foram registradas quaisquer formas de sobressaltos. A evolução foi lenta, gradual e imperceptível. Os períodos anteriores não foram desprezados, permanecendo sempre muitos resíduos, que, em muitos casos, são percebidos até os dias atuais.
A explicação, no entanto, encontra opositores. O escritor italiano Ernesto Bozzano, abordando os povos primitivos e as manifestações espirituais, revela que está na vida cotidiana do homem a origem na crença da existência de um mundo imaterial. Através dos sonhos, quando é possível a viagem ao mundo desconhecido, o homem primitivo tomou contato com uma realidade distante, a existência de um criador e a sobrevivência espiritual.
As religiões antigas foram formadas a partir da observação da natureza. O homem era o deus primitivo. Aliás, não poderia ser diferente. Ainda frequentando a infância do conhecimento, o homem conhecia superficialmente o mundo, as leis da natureza. Sua maior intimidade era consigo mesmo, ainda assim, um parco conhecimento. Desconhecia a origem das emoções, dos sentimentos, enfim, não tinha contato com o subjetivo.
Os deuses de então eram os mortos. Afinal de contas, eles, libertos que se encontravam da realidade corporal, podiam entrar nos mundos superiores. Entre hindus, chineses, gregos, romanos e outros povos, a crença na divindade humana é recorrente. Os mortos da família eram alvo de devoção, de homenagens, de cuidados especiais. O fogo representava o sentimento de dedicação. Os mortos governavam.
As famílias dedicavam honras a seus mortos, temendo abandoná-los. Acreditavam que, esquecessem seus mortos, e desgraças ocorreriam em seu meio. Safras mal sucedidas, morte de animais, perda de entes queridos, morte de escravos. Enfim, todos os desastres possíveis poderiam acontecer, caso negligenciassem na homenagem aos seus deuses.
Com o passar do tempo, a religião foi se modificando. Deixou o seio familiar. Os deuses já não eram seres conhecidos, mas sim, criadores poderosos donos do bem e do mal, prontos a elevar os mais fervorosos ao paraíso e relegar os infiéis às dimensões mais densas do inferno eterno.
Nos dias de hoje, a discussão religiosa é pauta política. Deus está no palanque. Na verdade, homens colocam na boca da divindade seus preconceitos, seus interesses, seus valores, suas ideias, buscando garantir um lugar ao sol. O paraíso aparente apresenta de modo sutil o inferno que está reservado aquele que não atende ao chamado.
Deus não está em campanha. São homens que disputam o poder. São humanos que votam, que escolhem seus governantes bons ou ruins. São os próprios eleitores que depois sentem os efeitos da sua própria escolha. Deus não tem culpa. Os homens têm.

Sobre deuses:

Nenhum comentário:

Postar um comentário