29/10/2018

Bom dia grupo!!!

Nesses dias de luta aguerrida, de tentativa desesperada de construção e desconstrução de verdades, de vitórias e derrotas, de sonhos, de sobressaltos, de aparente caos e de paraísos prometidos, acorda-se como se um porre gigantesco tenha acometido mesmo os abstêmios. Gente que se manteve por anos de boca fechada saiu por aí gritando suas palavras de ordem, repetindo mantras recém-descobertos prometendo salvação a quem nem desejava ser salvo. O barulho foi grande. Os resultados das urnas são conhecidos. Os efeitos não.
Para muitos restou uma dor na alma, uns familiares que se tornaram distantes, uns amigos que nem amigos eram e que menos amigos ainda se tornaram. As percepções são individuais, é claro. Mas, não se duvide do tamanho do trauma que pode se operar nos relacionamentos. Para alguém, o bolo saboroso da tia amada, que traiu a confiança e se bandeou para o outro lado, perdeu o gosto. Tanto quanto o bolo, a tia perdeu a graça. A confiança se afastou. Talvez volte, talvez não.

Para outros, no entanto, seguiu-se o contentamento e a satisfação de ganhar, de marcar o gol que faltava. Mas, ainda assim, alguma fratura apareceu aqui ou ali, algum arranhão, mesmo que imperceptível no calor do jogo pode ainda ser encontrado quando a poeira for descendo e a realidade for se impondo lentamente. Não há festa que dure para sempre. Ela, por melhor que seja, sempre tem hora para acabar.
Alguns amigos virtuais, aos 45 minutos do segundo tempo, quando o jogo já estava encerrando, foram às redes sociais lembrar que, apesar dos ataques a torto e a direito, não desejavam perder os amigos nem os familiares. Que, durante o processo, nada mais faziam do exercer o legítimo direito ao posicionamento político. O que muitos não puderam dizer, porque encontravam-se em estado de fascinação e nem notaram, é que o tom foi carregado demais. O exagero sempre cobra a conta.
O certo é que no calor dos acontecimentos a tendência é se dizer mais do que deve ou se quer, normalmente num tom mais elevado do que o de costume. Os discursos vieram ácidos, chocantes, no mais das vezes desrespeitosos. É líquido e certo que o processo de comunicação atual emparelha mentira e verdade. Importa o resultado. Importa o impacto. O desejo é eliminar o outro, acabar com o adversário, extinguir o inimigo. Quem estiver na mira que se vire. A artilharia é pesada. Coisa séria vira zoação. Meia dúzia de palavras cristalizam e se multiplicam como torpedos em campos de guerra.
Na democracia, conviver com a oposição, com o outro é o que legitima o vitorioso. Assim, reconhecer o adversário é papel fundamental neste processo. Da mesma forma, reconhecer os resultados e legitimar o vencedor garantem a grandeza de quem não teve sucesso imediato, mas defendeu uma ideia defensável. Como se diz popularmente: é uma via de duas mãos. Respeito é a base da convivência.
Não há dúvidas de que o processo eleitoral revelou o lado escondido de muita gente. O ódio, a fascinação, a irresponsabilidade, a falta de compaixão, o desejo pela vitória. Agora, que o tumulto terminou, “bora lá esconder os monstros de novo” e tudo volta ao normal. A vida segue seu ritmo. Outras lutas virão. Outras decepções. Outras vitórias. A tia volta a fazer o bolo de novo e postar a receita no Facebook, o tiozinho volta a mandar mensagem de Chico Xavier e de Jesus. São novos os dias. Outros dias. E os grupos de família voltam ao emocionante tempo em que todos davam “bom dia!”. 


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