12/11/2018

A Liberdade

Liberdade, igualdade e fraternidade era o lema dos revolucionários franceses que derrubaram a monarquia e o clero instituindo uma nova ordem social, política e econômica na França, influenciando toda a Europa, no final do século XVIII. Dentre as conquistas mais significativas deste período, destaca-se a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, garantindo, assim, que um ser humano não deve ser tratado pelo Estado de forma autoritária.
Apesar de consolidado em todo o mundo, o lema vem sofrendo um desgaste significativo nestes anos de Nova Era. A pátria que o concebeu, a França, está batendo cabeça. Respeitar tão largos e abrangentes princípios tem sido um tanto quanto desafiador. E o que vem causando este tumulto é justamente a busca por uma vida melhor, mais humana, mais compreensiva e por maiores oportunidades de futuro por milhares de pessoas que fogem de zonas de conflito. Em tese, a França é o melhor local no mundo para isso. Os franceses, no entanto, não vêm pensando dessa forma. Cada imigrante significa o acirramento na disputa por vagas no concorrido mercado de trabalho e no atendimento nos serviços públicos. Como o dinheiro é finito, sobram problemas e carecem soluções.

O crescimento do discurso conservador, de direita, foi a resposta encontrada por boa parte dos eleitores. Queremos liberdade, igualdade e fraternidade para os nossos. Os outros que busquem em outro lugar, menos aqui.
Dia desses, um líder da Anistia Internacional, num destes documentários que passa na tevê, ressaltava que a Europa e boa parte do mundo está passando por um revés de fundo filosófico. O paradoxo que se estabeleceu nestes tempos, segundo ele, é que está sendo difícil conjugar liberdade com segurança. Com isso, as pessoas têm optado por restringir a liberdade para garantir o emprego, os serviços públicos e o status quo pelo menos no mundo físico. O lema idealizado pelos revolucionários de alguns séculos atrás corre sério perigo, segundo o pensador. A prática estaria na iminência de enterrar a teoria.
O contrário, por incrível que pareça, ocorre no mundo virtual. Os grandes problemas de vazamento de dados na internet se dão porque as pessoas, em geral, abrem mão da sua segurança para ter acesso aos serviços dos aplicativos. Ninguém gasta seu tempo lendo os termos de aceite. Muitas vezes, com isso, acabam tornando públicos seus dados sem ao menos se darem conta de que isso ocorreu por “livre e espontânea vontade sua”. Na Europa os legisladores têm sido muito firmes exigindo do Google, Facebook e outros gigantes que dominam as mídias sociais, um maior respeito aos usuários, impondo pesadas multas e criando garantias extras para a preservação dos dados individuais.
Por aqui nada se fala. Pelo contrário, há um certo deslumbramento em relação ao uso das mídias sociais no controle das pessoas. Tudo aquilo que Mussolini e Hitler talvez desejassem está disponível num telefone celular. Alunos e pais arapongas vigiando professores em sala de aula para evitar uma pretensa doutrinação. Até legisladores, que se dizem preocupados em preservar a sociedade, entraram nesta onda de perseguição. Exageram todos.
Ora, se os professores tivessem todo este poder e fossem tão unidos assim já teriam trabalhado de maneira bem mais concreta para garantir melhores salários no final do mês. Afinal, tiveram muito tempo para encher a cabeça dos políticos que aí estão e teriam muito mais aliados do que encontram nos dias de hoje. Vê-se, então, que a chamada doutrinação é falha.
Hoje a oferta de informação é muito grande. A contribuição da escola perdeu muito peso na formação das pessoas. Os conteúdos estão aí na internet. Ponto e contraponto. O professor pode falar em paz, em regimes de governos, em sistemas econômicos estudo o que quiser. Em casa, após a aula, o adolescente, na intimidade de seu quarto, pode ver tantos vídeos quanto quiser, matar milhares de pessoas, destruir cidades inteiras, conquistar impérios, matar sua ansiedade por aventuras em sites de ponografia sem que seus pais sequer suspeitem.
A liberdade virtual se contrapõe à liberdade física. Em muitos casos o desejo de controlar é mero gasto de energia. Osho é mais radical do que todos. Para ele, liberdade é não ouvir o pai, não ouvir a mãe, não ouvir o avô, não ouvir o padre ou o pastor, não ouvir o professor, não ouvir o deputado, não ouvir o senador, não ouvir o presidente do Rotary, do Lions, do país. Para ele, a liberdade é ouvir a sua voz. Para isso, no entanto, é necessário correr perigo, abandonar o capitalismo, o socialismo, o comunismo, a religião, todo e qualquer sistema e enxergar a verdade.
Mas, onde está a verdade, mesmo? Segundo ele, na consciência. 

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