Conhecimento e consciência
são dois termos que caminham juntos há muito tempo. Sócrates,
filósofo grego, alertava sobre a necessidade de o homem buscar as
respostas para seus anseios a partir do autoconhecimento. Ou seja,
sem conhecer a si mesmo não pode o indivíduo responder aquelas
dúvidas tão comuns sobre a sua identidade, sobre o seu papel
histórico, sobre o seu caminho, sobre suas angústias e aspirações.
Nos dias atuais é comum a
confusão que se estabelece entre conhecimento e opinião. Opinião
são as considerações que fazemos sobre algo a partir de algumas
impressões pessoais: - como será o dia de hoje? “-acho que vai
chover”. Poderia dizer que teremos muito sol. E poderia errar ou
acertar. Opinião é a manifestação feita sem embasamento teórico
ou mesmo prático. Assim, não é necessário que o indivíduo seja
especialista para opinar sobre meteorologia, sobre esportes, sobre
economia, sobre a política nacional e internacional, sobre o
comportamento dos mercados ou mesmo sobre medicina. Basta um
computador ou smartphone e uma conexão com a internet. Afinal, todos
nas redes sociais têm opinião.
Conhecimento não é isso.
Aliás, passa longe disso. Conhecimento é vivência: acadêmica ou
não. É conteúdo. É busca. É envolvimento sério. Teoricamente se
diz que “conhecer é uma atitude mental por meio da qual o ser
humano se apropria do mundo ao seu redor”. A opinião, por mais
incisiva que possa ser, não é capaz de proporcionar este grau de
envolvimento.
Dê-me uma tela, pincéis e
tinta. Como não tenho conhecimento de pintura não apresentarei um
resultado apreciável. Talvez nem o meu melhor amigo tenha a
coragem de olhar para o que eu produzi e lançar um elogio. Ocorre
que, para pintar um quadro é necessário certo domínio de técnicas,
de proporções, de sombreamento, de matizes, de cores. Isto é
conhecimento.
Diante de um quadro toscamente
pintado por mim eu tenho consciência de que aquela obra não é uma
obra-prima. Não é um marco artístico. Ou seja, a consciência
também contribui para a formação do juízo de valor.
Indo mais a fundo em termo
espirituais: a consciência é o conhecimento que o indivíduo tem da
sua existência, do meio em que vive, do certo e do errado. É saber
o seu tamanho espiritual. É conhecer seus medos, seus limites, seus
talentos. Ou seja, conhecimento e consciência estão ligados em
termos de existência espiritual. E não há como alargar a
consciência sem um mergulho sério, determinado no seu próprio
interior. Esta busca vai revelar ao indivíduo atento as respostas às
questões ais íntimas que se apresentam.
Todos os indivíduos têm suas
dificuldades na vida. Quem ainda não teve é certo que mais dia
menos dia terá. Em regra estas dificuldades estão relacionadas à
forma como ele se relaciona com as pessoas que o cercam, com o
trabalho que desenvolve, com as frustrações, com as dores no corpo
e na alma, com a ansiedade e o stress. Onde estão as respostas? Em
regra, busca-se no exterior. É o trabalho que não remunera bem, é
o talento que não é reconhecido pelo chefe, é isto ou aquilo.
No entanto, normalmente, as
frustrações estão relacionadas ao modo de sentir a vida pelo
próprio indivíduo, as expectativas que ele tem dos outros, a imagem
que ele constrói de si mesmo. Como não dá para mudar o outro,
conclui-se que cabe ao próprio indivíduo que realize a sua mudança.
O passo inicial, segundo o pai da Filosofia, é aquele mergulho
interno na busca do entendimento de seu próprio ser, conhecido como
autoconhecimento.
Claro, este processo
investigativo pode, às vezes, se tornar algo incomodativo, pois os
seres escondidos podem se revelar estabelecendo uma luta interna.
Então, é comum que essa luta seja adiada ou mesmo cancelada pela
desistência do indivíduo.
Alguns dos amigos leitores
certamente podem achar que este tema já foi superado. Afinal, os
tempos são outros, há preocupações bem mais prementes, a vida é
rápida e não há tempo pra discussões socráticas. Respeitosamente
divirjo. Na superficialidade os indivíduos não crescem. Olhando os
“defeitos” dos outros e divulgando os atavismos alheios não
vamos muito longe. Precisamos ir longe. O caminho está no começo e
há uma légua imensa a ser vencida. Ou não?
-
Enquanto escrevo esta crônica leio a informação de que o querido
Martim Espinosa partiu. Nosso goleiro dos tempos do jogo no campinho
foi embora. Sinto muito quando gente boa deixa a cena. Um abraço na
Ercília, na Jéssica e em todos os familiares.
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