“Os piores inimigos são os que aplaudem sempre.” -
Tácito, historiador romano.
Boa
parte da história romana nos chega pela pena de Tácito. Sensível,
estiloso, atento, o escritor esculpia a história misturando à prosa
um pouco de poesia. Descrevia com presteza e atenção o cenário do
poder. Naqueles tempos, como nos dias atuais, os bastidores decidiam.
As tramas familiares, com assassinatos providenciais para limpar o
campo do processo sucessório, as intrigas políticas, com as falsas
acusações sobre os opositores que geravam falsos julgamentos com
penas verdadeiras, presenteavam o reino com governantes ilegítimos.
Chegava-se ao poder através do sangue e da articulação política.
A adaga, a espada e a forca eram argumentos políticos dos mais
utilizados.
O
meio político era uma farsa. Roma viveu muitos períodos em uma
espécie de simulação. A realidade era forjada através de boatos,
falsidades, ilegalidades, negociatas e delírios. Neste meio
prosperaram, por exemplo, Calígula ou Caio
Júlio César Augusto Germânico, que para gerar um sucessor chegou a
manter relações com suas três irmãs constrangendo todo o império
que era frontalmente contra o incesto. Apesar de prosperar nos
primeiros tempos de governo, após ser acometido por transtornos
mentais, entregou-se desesperadamente à luta pela imortalidade. Foi
o primeiro romano que se fez deus. Para tanto, ergueu monumentos de
adoração.
Outro
filho ilustre da política romana foi Nero ou Nero Cláudio César
Augusto Germânico, implacável perseguidor dos cristãos, que chegou
ao poder ainda na adolescência. Era filho adotivo de Cláudio,
sucessor de Calígula e sobrinho deste. Seu governo foi retratado na
história como recheado de mortes. Segundo se sabe, Nero chegou a
mandar executar sua mãe e exterminar outros membros da família num
devaneio comum entre os imperadores romanos que vivenciavam um
ambiente de conspiração permanente e um clima de paranoia e delírio
reincidentes.
Como
a história não é narrada por uma única fonte, muito do que se
sabe sobre a organização política romana vem recheada de exageros.
Em regra, destacam-se os aspectos da loucura nos loucos, da
devassidão nos devassos e da intolerância entre os intolerantes. As
cores são vibrantes. O drama é quente. A narrativa tende à paixão.
Aliás, o poder tende à paixão.
Tácito
é história. Roma é história. Bastidores e intrigas fazem parte da
história de algum modo enterrando qualquer objetividade, eis que os
acertos e conchavos emprestam certo ar de novela, de romance, de
drama e suspense à narrativa dos fatos que vão ficando cada vez
mais ao longe.
Por
certo, no futuro, não lembrarão de qualquer Tácito dos nossos
dias. Os meios onde ficam gravados os acontecimentos de construção
da história não são permanentes. Talvez não seja tarefa fácil
escrever Annais
como fez o historiador romano. Os meios hoje são virtuais. São
nuvens que podem sumir como só as nuvens sabem fazer. A pretensão
de escrever verdades históricas em contraponto ao mythos
da
literatura, que impulsionava os historiadores antigos, talvez se torne
ainda mais inviável. As ações formais estão fora de moda. Pelo
Twitter rebaixam-se os orçamentos da educação em 30%. Pelas redes
sociais criam-se crises diariamente. Pelo mundo virtual as intrigas
palacianas ganham vida.
No
mundo dos fatos, onde as pessoas precisam de comida na mesa, de
gasolina para o carro, de dinheiro para custear a escola dos filhos,
de uma ideia positiva de futuro, de bons exemplos para seguir em
frente ouve-se apenas o zum-zum-zum incessante gerado por postagens
vexatórias de um seleto grupo que, diferentemente dos romanos, foi
eleito pelo próprio povo. Há incendiários demais no reino.
Intrigas, paranoias e suspense. Ninguém sequer imagina os efeitos da
próxima postagem.
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