10/10/2018

Mais um jogo de futebol

"No fim, tudo vira partida de futebol: meu time contra o teu. E isso faz sentido pelo menos para quem gosta de jogo". 

De tempos em tempos o Brasil se reinventa. Foi assim com o Collor. Foi assim com o Lula. Será assim daqui para a frente. De lado a lado, esperanças e ressentimentos, ódios e amores doentios gerando ansiedades e angústias.
Tem gente que não está nem aí para as questões mais profundas. Importa ser contra alguém, bater boca nas redes sociais, divulgar notícias falsas e mensagens das mais morais possíveis, estabelecendo um novo padrão de comportamento: respeito aos valores da família e tiro nos outros. O pano de fundo é o combate à corrupção, aliás um dos maiores males da nossa civilização, e que merece ser combatido desde sempre.
Assim, o cidadão que muitas vezes está alheio às discussões mais intelectualizadas e teóricas que envolvem a história, as conquistas da civilização e outras coisas que fazem a alegria dos estudiosos, fica só na torcida. Ouve o pastor da igreja, o vizinho mais sabido ou alguém próximo e vai para a urna. No fim, tudo vira partida de futebol: meu time contra o teu. E isso faz sentido pelo menos para quem gosta de jogo.
Esse é o Brasil que temos. Estamos todos juntos nessa. Decidimos o futuro uns dos outros. Aceitar o resultado é preciso. Curar as feridas e seguir em frente é o remédio da hora.

Outros, porém, acham que é hora da revanche. Como cães ferozes atacam os locais que não aderiram aos seus encantos. Os nordestinos são os alvos da fez. Chega a ser vergonhoso, pelo menos para a gente que ouviu da mãe, quando ainda não se tinha muita consciência da vida, a recomendação de não agredir o outro, de respeitar a outra pessoa custe o que custar. Olha, tem cada coisa que, às vezes, sobressai um sentimento de desencanto e de total desânimo em relação ao ser humano. Coisa do momento, é claro. Isso é coisa que passa. Com o tempo tudo passa, como dizia Chico Xavier.
Uma coisa é certa: as feridas abertas durante este pleito permanecerão abertas por muito tempo. Ocorre que, neste ano, em especial, as emoções estão um tanto quanto exacerbadas. Os grupos de família, que, em tese, deveriam favorecer a cordialidade, o encontro e o estreitamento das relações, mais serviram para separar as pessoas por conta de suas escolhas. E isso não se cura com um chazinho e um sorriso. Leva tempo para que as palavras ásperas sejam digeridas e tudo volte ao normal.
Isso, dirão alguns, são meros detalhes. Mas, me digam com sinceridade: do que é feita a vida senão de detalhes? Em regra, as pessoas transitam por aqui cuidando de seus dramas cotidianos: a conta para pagar, um ou outro pequeno investimento, uma melhoria aqui ou ali, um serviço para garantir a subsistência, a frequência a algum culto, missa ou um ritual religioso qualquer que o ligue à divindade e que possa salvá-lo do caminho que ele mesmo escolheu. Nesse meio tempo, alguns acontecimentos alegres seguidos de uma ou outra chateação. Essa é a graça da coisa, digo, da vida.
Uma vitória num jogo decisivo ou numa eleição bem que podem significar o ápice da vida de alguém. A diferença é que na política a vitória do eleito nem sempre será a vitória para o eleitor. Mas, aí será tarde demais. O resultado vai reverberar durante um bom tempo. Porém, é certo que outro dia ele, o eleitor hoje vencedor, encontrá novamente uma urna para operar uma vingança privada.

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