Mitomania: s.f, psicopatologia, tendência a narrar extraordinárias aventuras imaginárias como sendo verdadeiras; hábito de mentir ou fantasiar desenfreadamente.
Minha mãe, Dona Araci, que já saiu deste plano faz algum tempo,
dizia que mentira tem pernas curtas. Eu acreditava nisso. Vez por
outra, uma ou outra traquinagem feita por mim ou pelos meus irmãos,
era resolvida diante da maternal inquisição seguida da ameaça: “tu
juras que isso é verdade? Olha que mentira tem pernas curtas!”.
Eram pequenas bobagens que se faziam. Coisas poucos significativas
como quem deixou uma xícara cair, quem derrubou o açúcar na mesa
ou, ainda, quem tinha começado a algazarra ou a briguinha entre
irmãos.
A estratégia dava certo. A mim restava a desconfiança de que mães
conseguem enxergar as coisas mesmo quando não estavam por perto.
Cheguei a acreditar que tinham uma visão estendida, um poder oculto,
quase como se uma câmera invisível bisbilhotasse o ambiente à
procura de sinais de descaminho nos ambientes em que os filhos
estavam, dedurando, assim, algum deslize dos pequenos.
Hoje, o mundo virtual vem desmentir categoricamente aquela premissa
infantil. Não: a mentira não tem pernas curtas. A eleição dos EUA
foi o exemplo primeiro: uma fábrica de notícias fantasiosas foi
criada nas redondezas de Moscou e em países gelados e,
aparentemente, neutros. De lá, meninos criavam notícias falsas para
atingir os adversários de Trump e ridicularizar os EUA. Coisas bem
estranhas, notadamente destacando a necessidade de devolver aos
americanos o poder. O negro Barack Obama foi uma das vítimas mais
visíveis. A própria Michele Obama foi atingida. Um rapaz, que deu
uma entrevista dia desses numa boa reportagem feita por um repórter
brasileiro, disse que, levado pela zoação, pela irresponsabilidade,
criou uma notícia de que Michele era, na verdade, uma mulher trans.
A sandice foi uma das mais compartilhadas. Disse ele que jamais
acreditava que uma bobagem dessas fosse tida como verdade por
milhares de pessoas. Ocorre que, o fascínio de compartilhar uma
novidade agregada à vontade de atingir outro, muitas vezes indefeso,
e o aparente anonimato que a internet confere ao cidadão, incentiva
este tipo de ação. A mentira repetida inúmeras vezes vai ganhando
uma feição de verdade. E isso cristaliza.
Me incluí durante algum tempo no grupo dos que tentavam checar
fontes, pesquisar responsavelmente, esclarecer quando possível, para
evitar que amigos e pessoas de bem não caíssem neste tipo de
armadilha. De nada adiantou. Concluo que quando envolve time de
futebol, paixão religiosa e disputa eleitoral mais vale uma mentira
que me favorece do que uma verdade que informe. Entreguei os pontos.
Não há necessidade de stress. Se desejam um mundo de mentiras que
sejam felizes assim. Há coisas mais importantes a fazer do que ficar
participando deste joguinho.
O mais preocupante agora nem é a fábrica de mentiras que se vendem
com embalagem de verdades. A justiça brasileira saberá agir como
deve. Creiam. É verdade. Acreditem em mim! As notícias verdadeiras
demonstrando vontade de intervenção no STF, de aniquilação dos
adversários e outros disparates de quem supostamente está na frente
é o que realmente preocupa. Se bem que, convenhamos, podemos
acreditar que vamos sobreviver a tudo isso. Quem já passou por
Collor, Sarney e Temer sobreviverá aos ganhadores e perdedores de
hoje e a todos os perdedores de amanhã.
Mas, domingo tem uma eleição. Mais uma na nossa vida. Uma como
tantas outras que vivemos e viveremos. Creio.
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