08/04/2019

O patriotismo e os professores de história


Ao contrário do que se imagina, o brasileiro é um indivíduo que sabe valorizar sua pátria. E esse patriotismo sempre esteve relacionado às conquistas. Jamais com governantes. Jamais quando se sente obrigado. Nos anos 80 e 90 o Brasil era só festa e reverência à sua bandeira e ao seu hino. Ayrton Senna, Nélson Piquet, o vôlei, o basquete, a vela traziam alegria e satisfação. Nem o mais tosco deixava de se emocionar quando a bandeira subia se destacando ao lado de potências esportivas. Fórmula 1, natação, Daiane dos Santos e seu salto duplo twist carpado, o Manezinho Guga e suas tacadas certeiras, Brasil nas copas sem tantas firulas, dando gosto de ser ver. Era orgulho puro. Não havia necessidade de major, de general, de governante dizer nada. A alegria contagiante valorizava o país. As pessoas deixavam o coração falar. Sem memorandos internos, sem ordens, sem circulares.
Não sei ao certo qual a pior contribuição que os governantes de hoje deixarão como legado. O jogo apenas começou. Há muito terreno pela frente. A reforma proposta na previdência social pode ser aprovada pelo Congresso do jeito que está. Os reflexos serão sentidos no futuro. Por ora, pouca coisa muda. As gerações mais novas é que sentirão na pele a vontade obsessiva em desonerar o capital e terminar com a expectativa de uma vida razoável na aposentadoria. Isso, claro, para cidadão comum. Se as contas fecharem, se houver superavit e o mundo empresarial esfregar as mãos diante de estatísticas de lucros crescentes é o que interessa. As pessoas: essas são meros detalhes. São privilegiados.
Ocorre que, mesmo que pouco provável, deputados e senadores poderão, milagrosamente tornarem-se seres sensíveis abrandando um pouco a proposta, amenizando o texto, especialmente na parte mais massacrante que atinge a população mais carente.
Por ora, creio que a pior contribuição está relacionada aos professores. Os governantes e seus milicianos virtuais detestam professores. Identificam os males da nação nos papos de sala da aula. É uma paranoia inexplicável, coisa doentia. Pelas conclusões desta turma os professores têm um poder extraordinário sendo capazes de doutrinar um sem número de pessoas jogando seus pupilos nos braços de ideologias que fazem muito mal ao país. Melhor educar pelo WhattsApp e pelas postagens falsas do Facebook. Esta estratégia é bem mais em conta e mais rápida.
Um dos principais problemas do país é a educação, mesmo. Faltam investimentos pesados na melhoria da escola pública, nos salários dos professores, na qualificação técnica dos mestres. O presidente Temer foi o responsável pelo congelamento de investimentos por 20 anos. Houve quem comemorasse esta “conquista”. A verdade é que só o processo educacional será capaz de trazer novos dias para o país. A sala de aula não é o problema. É, na realidade, onde as soluções nascem. Também é por aí que se conquista cidadania e respeito à Pátria. Forçar patriotismo, reverência a símbolos nacionais e religiosos na sala de aula editando medidas coercitivas é, no mínimo, uma demostração ditatorial.
O dogmatismo, em regra, tem como objetivo evitar qualquer tipo de contestação. Igrejas e grupos políticos usam com frequência expedientes proibitivos para evitar que o indivíduo pense. Melhor um sujeito que abaixe a cabeça e faça o que eu mando do que alguém que se arvore ao direito de questionar. Aceita mesmo com dor. É melhor assim.
Os tempos são estranhos. A treva, diz alguém. A dicotomia Gre-Nal tomou conta do Brasil. Não há meio termo. Ou se ama o que está aí ou se quer o fim da pátria. Ou se cala ou vai para Venezuela. Não há alternativa viável além da bipolaridade. Este sistema hermético é limitado, pobre, gera nervosismo, conflito desnecessário e gasto energético. É estressante e pouco inteligente.
O mundo aí fora demonstra todos os dias que há milhões de possibilidades. O Universo continua se expandindo. A Terra viaja a incríveis 107 mil quilômetros por hora ao redor do sol e 1700 quilômetros por hora em seu próprio eixo. Ou seja, o mundo está em constante mudança. Para onde vai não sabemos.
Os professores de história terão muito para contar no futuro. Isso se não forem eliminados antes que o futuro chegue.

Observação: há controvérsias:

"O patriotismo é o úlitmo refúgio do canalha". Dr. Johnson, pensador inglês.
"No Brasil, é o primeiro". Millôr Fernandes, pensador de Ipanema. 

Patriotismo é quando o amor ao teu próprio povo vem primeiro. Nacionalismo é quando o ódio pelos demais povos vem primeiro. Charles De Gaulle

"Depois da liberade desaparecer, resta um país, mas já não há pátria". François-René Chateaubriand




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