"Ao procurar socorro convocando os deuses é bom também fazermos nossa parte."
O
que se espera de um escravo liberto, corcunda, quem sabe de pouca
saúde? Muito pouco, diriam alguns. Quase nada, diriam outros.
De origem controversa, africano segundo alguns, egípcio segundo
outros tantos ou, ainda, ateniense, Esopo é um destes personagens
nada convencionais. Muito antes de Walt Disney construir um império
a partir da voz de um camundongo, Esopo, escravo de um filósofo
chamado Xanto, de Samos, colocava na boca de animais lições de
moral que, depois, tornaram-se peças populares e foram se
perpetuando até os dias de hoje.
Citado pelos grandes filósofos como Platão e Aristófanes, Esopo
sobrevive através de suas fábulas contadas e recontadas por La
Fontaine e por tantos outros em quase dois mil anos de história. A
Raposa e as Uvas, O Lobo e o Cordeiro, A Cigarra e a Formiga, a
Galinha dos ovos de ouro são algumas dessas fábulas que se
perpetuaram ao longo dos tempos e, por isso, muitas vezes nem ao
menos são creditadas ao seu autor.
Se algumas dessas fábulas apresentam uma moral um tanto quanto
superada pelo próprio progresso, outras ainda guardam uma mensagem
bem atual. De qualquer modo, a leitura sempre será intrigante,
curiosa e, muitas vezes, poderá provocar algum riso. Não aquele
deslavado e incontrolável, mas sim o riso cerebral. Destaco algumas
dessas pequenas circunstâncias bem elaboradas por Esopo que, de
algum modo, bem servem aos dias de hoje.
Pressentimento – Uma de suas tantas fábulas narra o diálogo
entre um leão alquebrado pela idade avançada e uma esperta e
diligente raposa: “Um leão cuja idade avançada não permitia mais
que fosse à procura de alimentos, valeu-se de um estratagema. Entrou
em uma gruta e se deitou, fingindo estar doente. E os animais que iam
visitá-lo, ele comia. Muitos já tinham morrido quando a raposa, que
tinha descoberto a astúcia, se apresentou. Ela parou a distância da
gruta e perguntou ao leão como ele estava. - Mal, respondeu. E
acrescentou: - Por que não entras? A raposa respondeu: - Eu não
entrei porque só vi rastro de animais entrando, nunca saindo. O
homem advertido pressente de longe o perigo e é capaz de evitá-lo”.
A Alma- Sobre o caráter
dos homens, Esopo ensina: “De acordo com as normas de Zeus,
Prometeu criou os homens e os animais. Mas, vendo que estes eram
muito mais numerosos, Zeus ordenou a prometeu suprimir um certo
número, transformando-os em homens. Assim foi feito. Eis por que há
homens que de humano só tem a aparência, mas a alma é de animal”.
Fé e trabalho - “Um rico
ateniense navegava com outros passageiros. Veio uma forte tempestade:
o barco virou. Enquanto todos os seus companheiros lutavam nadando
contra as ondas, o ateniense não parava de invocar Atena,
prometendo-lhe uma oferenda atrás da outra se ela o salvasse. Um dos
náufragos, que nadava ao seu lado, disse-lhe: - Convoca Atena e
também teus braços.” Ao procurar socorro convocando os deuses é
bom também fazermos nossa parte.
Ótimo texto. Uma aula. Minha imagem sobre Esopo mudou radicalmente.
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