12/04/2019

O Mundo de Esopo



"Ao procurar socorro convocando os deuses é bom também fazermos nossa parte."

O que se espera de um escravo liberto, corcunda, quem sabe de pouca saúde? Muito pouco, diriam alguns. Quase nada, diriam outros.
De origem controversa, africano segundo alguns, egípcio segundo outros tantos ou, ainda, ateniense, Esopo é um destes personagens nada convencionais. Muito antes de Walt Disney construir um império a partir da voz de um camundongo, Esopo, escravo de um filósofo chamado Xanto, de Samos, colocava na boca de animais lições de moral que, depois, tornaram-se peças populares e foram se perpetuando até os dias de hoje.
Citado pelos grandes filósofos como Platão e Aristófanes, Esopo sobrevive através de suas fábulas contadas e recontadas por La Fontaine e por tantos outros em quase dois mil anos de história. A Raposa e as Uvas, O Lobo e o Cordeiro, A Cigarra e a Formiga, a Galinha dos ovos de ouro são algumas dessas fábulas que se perpetuaram ao longo dos tempos e, por isso, muitas vezes nem ao menos são creditadas ao seu autor.

Se algumas dessas fábulas apresentam uma moral um tanto quanto superada pelo próprio progresso, outras ainda guardam uma mensagem bem atual. De qualquer modo, a leitura sempre será intrigante, curiosa e, muitas vezes, poderá provocar algum riso. Não aquele deslavado e incontrolável, mas sim o riso cerebral. Destaco algumas dessas pequenas circunstâncias bem elaboradas por Esopo que, de algum modo, bem servem aos dias de hoje.

Pressentimento – Uma de suas tantas fábulas narra o diálogo entre um leão alquebrado pela idade avançada e uma esperta e diligente raposa: “Um leão cuja idade avançada não permitia mais que fosse à procura de alimentos, valeu-se de um estratagema. Entrou em uma gruta e se deitou, fingindo estar doente. E os animais que iam visitá-lo, ele comia. Muitos já tinham morrido quando a raposa, que tinha descoberto a astúcia, se apresentou. Ela parou a distância da gruta e perguntou ao leão como ele estava. - Mal, respondeu. E acrescentou: - Por que não entras? A raposa respondeu: - Eu não entrei porque só vi rastro de animais entrando, nunca saindo. O homem advertido pressente de longe o perigo e é capaz de evitá-lo”.

A Alma- Sobre o caráter dos homens, Esopo ensina: “De acordo com as normas de Zeus, Prometeu criou os homens e os animais. Mas, vendo que estes eram muito mais numerosos, Zeus ordenou a prometeu suprimir um certo número, transformando-os em homens. Assim foi feito. Eis por que há homens que de humano só tem a aparência, mas a alma é de animal”.

Fé e trabalho - “Um rico ateniense navegava com outros passageiros. Veio uma forte tempestade: o barco virou. Enquanto todos os seus companheiros lutavam nadando contra as ondas, o ateniense não parava de invocar Atena, prometendo-lhe uma oferenda atrás da outra se ela o salvasse. Um dos náufragos, que nadava ao seu lado, disse-lhe: - Convoca Atena e também teus braços.” Ao procurar socorro convocando os deuses é bom também fazermos nossa parte.


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