Houve um tempo em que o voto era em papel. Chamava-se cédula
eleitoral. O eleitor chegava na sua seção eleitoral,
identificava-se com o seu título e recebia do mesário um papel
impresso. Não havia essas urnas eletrônicas. Assim, ao invés de
digitar um número o eleitor escrevia o número do candidato ou seu
nome ou, ainda, somente o partido político. Como o analfabetismo era
imenso, alguns votos viravam motivo de gargalhada. Nas cidades
pequenas, então, um voto poderia fazer a diferença e a luta era
ferrenha para validar um voto duvidoso.
Um dos aspectos mais curiosos nesses pleitos foi o lançamento de
candidaturas alternativas. Assim, animais, personagens de filmes e
novelas recebiam votos de eleitores irresponsáveis ou gozadores.
A tentativa mais consagradora foi do rinoceronte Cacareco. Corria
o ano da graça de 1959. Já naquele tempo, imperava o sentimento de
desgosto e de decepção em relação ao panorama político. Um
jornalista, Itaboraí Martins, do Estado de São Paulo, numa bem
humorada iniciativa, lançou Cacareco como candidato a vereador.
Imprimiu milhares de panfletos e distribuiu na capital paulista. O
animal conseguiu a impressionante marca de 100 mil votos. A
performance de Cacareco foi tema da conceituada revista Time, dos
EUA, que destacou a manifestação de um eleitor:"É melhor
eleger um rinoceronte do que um asno”.
Outra iniciativa digna de registro foi no final dos anos 80. O
grupo Casseta e Planeta lançou como candidato a prefeito do Rio o
Macaco Tião. O símio, que nada tinha de simpático, recebeu nada
menos do que 400 mil votos, chegando em quarto lugar naquela eleição.
Também no final dos anos 80, Vila Velha, no Espírito Santo,
viveu situação parecida ao Rio e São Paulo. Nem macaco e nem
rinoceronte foram as estrelas das eleições municipais: mas, o
mosquito. Ocorre que a cidade sofria com uma invasão de Aedes
Aegypti, o mosquito da dengue. Os eleitores, insatisfeitos com a
falta de ação dos governantes, elegeram o mosquito como prefeito da
cidade. Claro, a Justiça Eleitoral não considerou os votos válidos
e proclamou o segundo colocado como prefeito. Uma das primeiras ações
do prefeito eleito, Magno Pires da Silva, foi realizar campanhas
ferrenhas para derrotar o inimigo. Ao que consta foi bem sucedido.
Hoje estas zoações não são mais possíveis. A urna eletrônica
elimina estes processos criativos. Mas, o eleitor brasileiro se assim
desejar poderá “protestar” irresponsavelmente: poderá até
votar num asno. E, dessa vez, nem a justiça poderá fazer coisa
diferente do que entregar a faixa e assistir o espetáculo circense.
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