Minha mãe não era adepta de televisão. Além do minguado orçamento doméstico que não permitia nenhum tipo de luxo, a bem da verdade, às vezes, não era suficiente nem mesmo para aquisição de coisas essenciais, ainda havia sua convicção religiosa. Sua religião, como muitas outras naqueles tempos, entendia que aquela janela proporcionava uma rápida viagem ao inferno. Tudo o que se passava naquela tela brilhante tinha o poder de cooptar a alma do vivente e levá-lo até os confins dominados pelo capeta e seus capangas. Jamais gostei da imagem do inferno. Mas, sempre senti uma forte atração pela programação televisiva. Isso que a programação naqueles tempos era coisa de criança. O gato Tom correndo atrás de Jerry para transformá-lo em almoço. O Coiote com mil planos para explodir, prensar, esmagar o Papa-Léguas (Bip-Bip). Tarzan enfrentando jacarés de cinco metros com uma faca e muita ginga.
25/11/2015
17/11/2015
O Céu e o Inferno
O Céu- Os deuses realizam uma assembleia. O local onde se encontram é amplo. Limpo. Calmo. De rara beleza. Reina tranquilidade. Suave música pode ser ouvida por todos. Os tronos são claros. Moldam-se aos corpos das divindades. O céu está repleto. Os deuses vão deliberar sobre questões importantes.
14/11/2015
O treino e o jogo
Quem vê o atleta de alto
rendimento correndo com esforço, superando seu limite e, finalmente, vibrando
intensamente com a medalha no peito, não escapa à tentação de desejar a mesma
glória. O hino do país tocando, a bandeira no alto, o nome e a marca no painel
eletrônico. Câmeras e mais câmeras varrendo o corpo suado e o sorriso estampado
no rosto. A camiseta e o calção colados. A torcida em festa. Entre os presentes
misto de admiração e inveja. Sentimento mais do que comum. E aceitável.
A
marca vencida e a barreira superada se fazem passado muito rapidamente. Vencer
outras marcas, superar outras barreiras tornam-se os objetivos seguintes.
03/11/2015
Papo de Bar
Ilustração: João Werner |
Todos os dias, no final de tarde, com chuva ou com o sol ainda mostrando-se graciosamente antes de ser engolido pela noite, ele dá expediente no boteco. Toma um liso, acende um cigarro. Espera o momento oportuno para proferir sua conhecida palestra. Eis que chega a sua vez. Como é de costume não desperdiça a oportunidade que lhe cabe.
Com ar professoral analisa a postura da defesa do tricolor. E vai além, lembrando a inoperância do ataque colorado. Mostra com os dedos ainda sujos de argamassa a melhor forma de postar os homens de meio campo. Os dedos cansados e machucados pelo serviço do dia se tornam homenzinhos hábeis. Parecem dispostos a sair correndo trás de uma bola, a trombar com o meia armador habilidoso do time adversário, a fechar os espaços nas costas dos laterais que avançam e não têm fôlego para voltar. Pena que o treinador de seu time não vê isso, pensa. Tudo poderia ser melhor se o professor tivesse alguma lucidez e não fosse tão burro como se mostra nos últimos jogos.
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