Eis que, dentro de alguns meses,
poucos meses, teremos eleições novamente. Prefeitos, vice-prefeitos e
vereadores serão escolhidos em todo o país. O barulho será o mesmo de sempre: a
oposição mostrando que os governantes não acertam o passo e que o plano de
governo mais condizente com o futuro almejado pelo povo é aquele que estão
apresentando. O novo, o certo, aquilo que as pessoas precisam para uma vida
feliz.
A
situação, por sua vez, baterá na tecla de que nunca se fez tanto. A saúde nunca
foi tão boa, a educação nunca recebeu tantos recursos, as praças, as ruas nunca
estiveram tão limpas e iluminadas.
E
assim se contará mais uma história política no nosso reino. Candidatos a
vereador subirão no palanque e apresentarão um discurso bem ensaiado. Alguns
prometerão um milhão de lutas, outros farão o povo rir, serão simpáticos nas
festas comunitárias e rirão a torto e a direito.
É
a festa democrática que se repete de tempos em tempos. E que bom que se repete.
Mas, luta ardida encontram os candidatos a vereador. Os eleitores são espertos.
Bem que gostam de uma vantagem. Muitas
vezes não desejem desagradar. E a estratégia, às vezes, é garantir o voto a
dois, três ou dez candidatos diferentes.
Conheci
um candidato em uma cidade pequena. Era um comerciante pequeno. Tinha uma
lojinha. Mal dava desconto de dez centavos para quem comprava um relógio, um
anel, uma gargantilha. Pois, perto da
eleição, mudou totalmente e começou a abrir mão. E, a cada desconto concedido,
olhava nos olhos do comprador e perguntava: “vais votar em mim?”. A cidade era
muito pequena. Duzentos votos era uma enormidade. Claro que ninguém dizia que
não votaria nele. E numa caderneta, o candidato-comerciante, anotava
pacientemente cada futuro voto.
Chegou
a dizer que já estava garantido. Tinha cotado 670 votos. Mas, concedia uma
dúvida em torno de 60 a 70 votos. Dizia: “sabe como é, nem todo mundo vai
honrar o compromisso”. No dia do escrutínio dos votos, a cada urna aberta o
candidato tinha uma surpresa. Sabia quem votava ali e de imediato se punha a
xingar os traidores. Tinha contado 15 votos e aparecia só um. E assim foi todo
o processo. Dos 670, restaram 70.
Durante
alguns meses, o candidato derrotado não abriu sua lojinha. Quando saía à rua,
para ir à igreja, caminhava com a cabeça baixa. A espécie humana o
envergonhava. Um que outro quando cruzava não disfarçava um sorriso leve que
saía pelo canto da boca.
Aos
poucos, o tempo foi apagando o trauma. Voltou a administrar sua loja. De
política nunca mais quis saber. Descontos? Capaz! Suprimiu esta palavra de seu vocabulário.
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